AS CORES DA LUZ E OS BRILHOS DA ESCURIDÃO

Juntas, complementares, antagônicas, parceiras, a luz e a escuridão são vitais para a sobrevivência das espécies humanas. Toda vez que filosofamos, conseguimos chegar até um certo ponto. Pois sabemos que nosso mundo interior tem um lado luz, revelado e um lado escuro, desconhecido. Como na câmera fotográfica definimos a quantidade de luz que entrará pelo sensor. Assim vamos, durante toda a vida, abrindo o nosso “diafragma” e capturando emoções, experiências e conhecimentos. Nossa luz física vem do sol. Quando seus raios atravessam a atmosfera ocorre o fenômeno da dispersão, tingindo o céu de azul. No nascer e no poente, segue pintando a linha do horizonte de cores em tons que vão do vermelho ao alaranjado.

Já na escuridão da noite, quando ele vai iluminar o outro lado da terra, temos a luz da lua em três faces aparentes. E a luz sintética da energia elétrica. O período escuro, exceto para aquelas e aqueles que tem empregos ou atividades noturnas, é o tempo de descansar. Também é o momento para os cientistas e observadores examinarem o céu à procura de novas estrelas, planetas, galáxias, meteoritos ou estrelas cadentes.

Em época remota, morando no interior de São Paulo, eu gostava de apreciar o céu noturno em busca dos pontos brilhantes, das formações estelares. E nesta semana, ao ler a matéria “Um céu cada vez com menos estrelas” assinada pelo Leon Ferrari no Caderno A Fundo do Estadão (22/01/22), confesso que fiquei meio triste e meio assustado. As informações que falam sobre a mudança no brilho global, vem de estudos científicos da revista Science. E apontam que, nos últimos 18 anos, o aumento da poluição luminosa reduziu de 250 para 100 o número de estrelas mais visíveis a olho nú. Um dos responsáveis é o uso da lâmpada de LED, branca e muito potente, em iluminações externas e internas. Apesar de gerar economia de custos em relação às convencionais, o LED branco emite uma grande quantidade de luz azul, que além de causar desconforto, suprime a taxa de melatonina, faz nosso cérebro produzir hormônios do dia e pode causar distúrbios no sono. A iluminação muito forte tem afetado o acasalamento de pássaros e de vagalumes. E nas praias, desorientado as tartarugas recém nascidas, que ficam indecisas entre o brilho da lua no mar e as luzes das vias de cidades próximas.

SolAo entrar nas letras das músicas as palavras luz, escuro e escuridão assumem vários significados. Como em “Luz e mistério”, parceria de Beto Guedes e Caetano Veloso, escondem as direções que o amor pode oferecer. “Oh! Meu grande bem. Pudesse eu ver a estrada. Pudesse eu ter a rota certa. Que levasse até dentro de ti. Oh! meu grande bem. Só vejo pistas falsas. É sempre assim. Cada picada aberta me tem mais. Fechado em mim. És um luar. Ao mesmo tempo luz e mistério. Como encontrar. A chave desse teu riso sério.”

A não oposição de luz e escuridão é abordada em “No escuro” de Sandy e Lucas Lima, que ganhou uma bonita interpretação de Sandy e Maria Gadú. “De você só quero tudo. No claro e no escuro. A gente se acerta no escuro. Te vejo no escuro. Me devolve o aperto do abraço. Que me libertou. Te devolve pra mim e eu me encaixo no seu tom. Quero morar naquele tempo sem fim.”

E, na medida em que uma é necessária para a existência da outra, elas aparecem nos versos de “Certas coisas”, um dos maiores sucessos de Lulu Santos, em parceria com Nelson Motta. ”Não existiria som. Se não houvesse o silêncio. Não haveria luz. Se não fosse a escuridão. A vida é mesmo assim. Dia e noite, não e sim.”
Luz na escuridão além de ser uma frase popular, batiza várias canções com esse foco.

Uma delas é a “Luz Na Escuridão” de Pedro Altério e Pedro Viáfora, com Pedros. ”Sei lá se tem como explicar. Eu viajei aqui nesse lugar. Dancei nas matas do meu coração. Nas nebulosas da imaginação. Sei lá qual é o seu poder. Eu me encontrei olhando pra você… É tão lindo parte de nós enxergar a luz. Outra vez mais o segredo: deixa o medo e vai.” Destaca-se também na canção homônima “Luz na escuridão”, composta por Antonio Cezar De Merces e cantada pelo 14 Bis. ”Somos bons amigos. Somos quase como irmãos. Existe tanta coisa entre nós. Todo tempo vivido. No melhor sentido da expressão. No som dos instrumentos nossa voz. Então porque silêncio. Quando o coração nos diz. Que o som é luz na escuridão.”

Vem de Gilberto Gil a ideia da escuridão como uma via de convivência e ao mesmo tempo de amor que perde a luz. Uma de suas mais bonitas canções “Drão” traz linda poesia em homenagem à ex mulher Sandra, cujo apelido batiza a canção: “Drão, o amor da gente é como um grão. Uma semente de ilusão. Tem que morrer pra geminar. Plantar n’algum lugar. Ressuscitar no chão nossa semeadura. Quem poderá fazer aquele amor morrer. Nossa caminhadura? Dura caminhada. Pela estrada escura.”

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