Caravela

BARCOS, NAVIOS E NAVEGANTES

Os primeiros navios que avistei em minha vida foram no Porto de Santos, nos anos 60. Férias em família, com meu avô paterno Simão nos acompanhando. Ficamos num hotel na avenida da praia. E dava para ouvir seus apitos da calçada. Lembro de poucas situações em que entrei em embarcações. Como em viagens, utilizando balsas, a que liga Santos ao Guarujá e a outra que vai e volta pra Ilhabela. Trago na memória uma bela aventura com o veleiro do amigo Nilton Pilz Junior, nos anos 70, na Represa de Guarapiranga. Recordo linda tarde numa barcarola em Salvador, para visitar a Ilha dos Frades e Itaparica, nos anos 80. Trago ainda boas lembranças de pescarias em pequenos barcos, remadas com canoas em lagos de sítios, passeios de lanchas.

Neste episódio, navegamos juntos além dos rios e mares para dentro da imaginação dos poetas, aportando nos versos de conhecidas canções. A primeira escolhida tornou-se um dos cartões postais da Bossa Nova. Composta por Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, “O Barquinho” pegou carona na requintada interpretação de João Gilberto e nos arranjos de Tom Jobim. “Dia de luz festa de sol. E um barquinho a deslizar. No macio azul do mar. Tudo é verão e o amor se faz. Num barquinho pelo mar. Que desliza sem parar…”

NavioNa canção “Barco”, que faz parte do seu revolucionário álbum Mama Mundi de 1999, Chico César traz versos carregados de questionamentos humanos. “Choro contigo barco. Pela praia que deixas. Pelo sol que se deita. Longe das pedras do cais. Choro contigo barco. Amanhã talvez não chore mais. Choro meu choro parco. Neném que a mãe não mais aleita. Choro a caça que espreita. Bem perto a mira do algoz. Choro catarinetas ´manhã alguém chora por nós.”
Em “Os Argonautas”, Caetano Veloso homenageia o poeta Fernando Pessoa e os antigos navegantes portugueses, para os quais os objetivos de navegar estavam acima de suas próprias vidas. Não é à tôa que o ritmo é um fado. “O Barco! Meu coração não aguenta. Tanta tormenta, alegria. Meu coração não contenta. O dia, o marco, meu coração. O porto, não!…Navegar é preciso. Viver não é preciso…”

Uma expressão usada por Chico na canção “Madalena foi pro mar” está relacionada à espera inútil pelo monarca Dom Sebastião, rei de Portugal, que morreu em batalha, mas seu corpo nunca foi encontrado. O povo português ficou muito tempo esperando, inutilmente, sua volta e observando os navios no mar. “Madalena foi pro mar e eu fiquei a ver navios. Quem com ela se encontrar. Diga lá no alto-mar. Que é preciso voltar já. Pra cuidar dos nossos filhos”.

Fernando Torrado Parra e Hugo Fattoruso transformam o coração apaixonado numa embarcação. A canção “Virou Navio” está presente no álbum Futuramérica de Geraldo Azevedo. “Sei que estou dentro. E que esse é o meu lugar. Meu coração virou um navio. E nessas águas claras. Sei que vou te encontrar. Um profundo azul céu azul.

Um azul de mar. Uma emoção me invade. E me faz feliz”.

Ver a amada como o mais belo navio da praia é a proposta da canção “Navio” que Djavan compôs em parceria com os filhos Flávia Regina e Max Viana, para o álbum Não é azul, mas é mar. “Eu amei a sua cara. Venha cá. É um prazer ouvi-la falar. Musical que nem um rio. Que navio é você na praia. Que visão! É um abismo pro coração. Sim, pelo que vejo. Você é a mais bonita Filha da manhã Suave beijo Em lábios de maçã”.

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Imagens:
Adlerauge/Pixabay
Cabeçalho: Pixabay


 

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