CANTORES BRASILEIROS AMERICANIZADOS
Nos anos 70 o mercado da música no Brasil estava muito concorrido. De um lado, promissores cantores, cantoras e compositores da MPB, revelados especialmente em festivais das emissoras de televisão e movimentos como a Jovem Guarda e o Tropicalismo. De outro lado havia os consagrados cantores e bandas estrangeiras dos anos 60, cada vez mais presentes nas emissoras de rádio. Então, para o lançamento de novos cantores os produtores e as gravadoras buscaram oportunidades em duas frentes. Trilhas internacionais de novelas, em especial as da Globo, que bombavam em audiência. Lembrando que nas trilhas nacionais de novelas entravam as músicas de cantores já em evidência. E, como era moda tocar música americana para animar os eventos dos clubes da cidade, os novos ídolos seriam cantores “americanizados”, usando nomes em inglês e cantando só em inglês.
Importante lembrar que havia excelentes bandas, com músicos e cantores muito competentes, que tocavam nas disputadas domingueiras dos clubes paulistanos, como o Círculo Militar. Uma delas era a Sunday, que teve como integrantes Hélio Costa Manso, Vivian Costa Manso, Marcelo Caggiano, Fábio Marques, Cláudio Negrão, Márcio Negrão, Alaor Coutinho e Gel Fernandes. Em 1970, a banda já fazia sucesso com a música “I’m gonna get married”, tema da novela Super Plá da TV Tupi. Nesse ano a Sunday recebeu uma premiação especial com “I’m gonna get married”: a mais vendida no Brasil.
Então Hélio Costa Manso, que era o vocalista da Sunday, deixou a banda e virou Steve MacLean, lançando a canção “True Love” em 1970, que depois estourou em todo o Brasil como tema da novela global “O Grito” de 1975.
A banda Light Reflections, de André Barbosa Filho, que usava o pseudônimo Brian Anderson, Marc Mane, Ricky Taylor e Billy Rogers, lançou “Tell me once again” no álbum One way, em 1973. E vendeu mais de um milhão de discos, fazendo shows por vários países latino-americanos. “Tell me Once Again” também fez parte da trilha sonora da novela Uma Rosa com Amor, da TV Globo. Outra música do grupo, “Welcome, Welcome”, integrou a trilha internacional de O Semideus, em 1974.
Outra banda paulista a destacar é a Lee Jackson de Claudio Condé, Luiz Carlos Maluly, Marco Bissi, Marcos Maynard e Sérgio Lopes que deixou como seu maior sucesso a canção “Hey girl” em 1974.
Nessa época, o cantor Jessé era Tony Stevens, que teve sucesso com “Flying High” de Stemphen McKay e AC Kidman, num compacto de 1970. Em 1977 gravou “Long Time” que foi tema da Novela Coquetel de Amor e Espelho Mágico.
O paulista Terry Winter, nascido Thomas William Standen, gravou “Summer Holiday” em 1971, que foi outro sucesso em toda a América Latina.
Dave MacLean, originalmente José Carlos González, participou da banda The Buttons. Seu primeiro grande hit em carreira solo foi “Me and You”, presente na trilha da novela Os Ossos do Barão (1973).
O pernambucano Ivanilton de Souza Lima adotou o nome de Michael Sulivan, e chegou ao sucesso com “My Life” de Sulivan e Sandra Chambers, em 1976.
Fábio Correa Ayrosa Galvão, o Fábio Jr, virou Mark Davis. E lançou em 1974 a canção “Don’t let me cry”, em parceria com Pete Dunaway, feita em homenagem à uma antiga paixão de nome Martinha.
Pete Dunaway, pseudônimo de Otávio Augusto Fernandes Cardoso, gravou a canção “Adam and Eve”, em 1975.
Paul Denver, nome artístico de Carlos Alberto de Souza, outro ex integrante da banda The Buttons, gravou “Rain and memories”, sucesso em 1975.
Christian era o goiano José Pereira da Silva Neto. Por contrato, a exemplo de outros ídolos americanizados, não podia aparecer na televisão, nem na capa do próprio disco. Estreou com “Don’t say goodbye” que foi tema da novela Cavalo de Aço da Globo. E ficou 19 semanas em primeiro lugar nas paradas, em 1973.
Ralf, nascido Richardson da Silva, era Don Elliot que lançou “One day in your life”, canção de Renee Armand e Sam Brown III, cantada por Michael Jackson, em 1975.
Richard Young, o Ricardo Feghalli da banda Roupa Nova, gravou “Rainy Day” que foi destaque na Trilha internacional de Loco-motivas da Globo, em 1977.
Morris Albert, Maurício Alberto Kaisermann, foi o melhor sucedido dessa geração de cantores brasileiros americanizados. Como já havia estudado nos EUA, resolveu fazer a vida musical por lá. Sua canção “Feelings”, interpretada por mais de 300 artistas incluindo Nina Simone, o projetou mundialmente, chegando ao sexto lugar na Billboard Hot 100 entre 1974 e 1976.
Para continuar suas carreiras após os anos 70, alguns cantores que haviam se americanizado permaneceram com os seus pseudônimos importados, fazendo shows e turnês. Outros acataram nomes artísticos em português, mudando de estilos musicais e cantando também em português. Para citar alguns exemplos de carreiras bem sucedidas, temos Fábio Júnior que passou a compor e a cantar músicas românticas. Christian and Ralf foram pra musica sertaneja. Terry Winter, que adotou o nome de Chico Valente, é responsável por sucessos sertanejos nas vozes de Milionário & José Rico, Tonico & Tinoco e Matogrosso & Matias. Michael Sullivan, formando dupla com Paulo Massadas, virou um importante compositor de sucessos para grandes cantores e cantoras. E existe ainda um grupo seleto de artistas que se tornaram produtores musicais, diretores e presidentes de gravadoras, como é o caso dos ex integrantes da banda paulista Lee Jackson.
Nota 1: Principais fontes consultadas: Reels; Veja; g1.globo.com; Money Report; last.fm; jovemguarda.com.br/
Nota 2: Sugestão temática por Manuel Carvalho
Nota 3: Pesquisa histórica e musical, texto por Nando Cury
Nota 4: Esta crônica apresenta uma seleção de cantores que mais se destacaram dessa geração formada por ídolos americanizados, mas há outros aqui não mencionados.
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