ESTA É PRA TOCAR O RÁDIO
De cara, vamos lembrar de alguns fatos importantes sobre o rádio no Brasil. A primeira transmissão aconteceu em 1923, por Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. O rádio foi o principal veículo de comunicação de massa do país entre 1930 e o começo da década de 60. A Era de Ouro do Rádio se deu durante o governo de Getúlio Vargas (1930 a 1945) e está diretamente associada à presença da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Globo da época. Inaugurada em 1936 e recebendo incentivo governamental, a Rádio Nacional ofereceu uma grade de programação diversificada (novelas, notícias, humor, shows ao vivo), atraindo importantes patrocinadores e tornando-se o grande celeiro de artistas e cantores brasileiros. No palco da Nacional surgiram talentos como Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Silvio Caldas, Linda e Dircinha Batista, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, Elizeth Cardoso, Garoto, Emilinha Borba, Irmãs Miranda, Marlene, dentre outros e outras.
Depois que a televisão surgiu, nos anos 50, muitos pensaram que o rádio estava com seus dias contados. Mas, o rádio resistiu, modernizou-se, cresceu nos anos 70 com a melhor fidelidade na chegada da FM, segmentou-se em estilos musicais, esportes e notícias. Quando a internet se consolidou em meados dos anos 90, trazendo o streaming, os podcasts a partir de 2004, muitos outros afirmaram que o rádio iria pras cucuias. Longe disso, o rádio se reinventou, através da rádio online, montando seus formatos digitais, apresentando seus estúdios e as imagens de seus locutores ao vivo.
Dados da pesquisa Inside Rádio 2022, realizada pela Kantar Ibope apontam que o meio segue em alta no seu consumo no país, seja no dial e também por plataformas digitais. O rádio é consumido por 83% da população brasileira. Cada ouvinte passa 3h58 minutos ouvindo rádio por dia. Considerando mais uma opção de resposta na pesquisa, 63% das pessoas ouvem em casa, 30% ouvem pelo rádio do carro, 12% em outros locais, 9% na rua e 3% no trabalho. Via web já são 7,4 milhões ouvintes, sendo que 70% escutam pelo celular, 30% pelo computador, 7% pela televisão e 6% por smart speakers, caixas de som com inteligência artificial, como a Alexa da Amazon.
Então, como ouvintes que pertencem a diferentes gerações, desde aqueles, como eu, que tiveram rádios de pilha aos que conheceram o rádio dentro de um painel digital de carro, vamos lembrar juntos de algumas canções que fazem referências a este simpático meio de comunicação de massa.
No mesmo ano do nascimento da Rádio Nacional, em 1936, a música “Cantoras do Rádio” de Alberto Ribeiro, João de Barros Braguinha e Lamartine Babo, cantada por Carmen e Aurora Miranda, registra o auge do rádio, o veículo mais popular da época. “Nós somos as cantoras do rádio. Levamos a vida a cantar. De noite embalamos teu sono De manhã nós vamos te acordar. Nós somos as cantoras do rádio. Nossas canções cruzando o espaço azul. Vão reunindo num grande abraço. Corações de Norte a Sul”.
Presente no icônico disco “Refazenda” de 1976, a música “Essa é pra tocar no rádio” indica a importância do veículo na divulgação dos lançamentos musicais nacionais. “Essa é pra tocar no rádio. Essa é pra vencer o tédio. Quando pintar. Essa é um santo remédio. Pro mau humor. Essa é pro chofer de táxi. Não cochilar.
Lançada no Fantástico da Rede Globo, em 1976, a música “Apenas um rapaz latino-americano” de Belchior, é o maior sucesso de sua carreira e traz os seguintes versos: “Eu sou apenas um rapaz latino-americano. Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes. E vindo do interior. Mas trago de cabeça uma canção do rádio. Em que um antigo compositor baiano me dizia. Tudo é divino, tudo é maravilhoso.”
Dizem que a canção “Último blues” do Chico Buarque, gravado por Gal Costa em 1989, inspirou o nome da banda Radiohead. “Essa menina que você seduz. E um dia depois. Sem mais nem mais, esquece… Essa menina pode ir pro Japão. Na vida real. Você é quem enlouquece… Ao som do último blues. Na Rádio Cabeça”.
No álbum de estreia dos Titãs, em 1984, a badalada canção Sonífera ilha, de Marcelo Fromer, Branco Mello, Toni Bellotto, Ciro Pessoa e Carlos Barmack, traz a presença de um marcante aparelho de cena. “Não posso mais viver assim ao seu ladinho. Por isso colo o meu ouvido no radinho de pilha. Pra te sintonizar sozinha numa ilha. Sonífera ilha. Descansa meus olhos. Sossega minha boca. Me enche de luz”.
Pra terminar, a canção “Leva” de Michael Sullivan e Paulo Massadas, sucesso na voz de Tim Maia, em 1985, e que uma declaração de amor ao Rádio. “Tão bom é poder despertar. Em você fantasias. Te envolver, te acender. Te ligar, te fazer companhia. Leva. O meu som contigo, leva. E me faz a tua festa. Quero ver você feliz”.
NOTA. Sugestão de tema e pesquisa musical por Toni Liutk. Pesquisa histórica e texto por Nando Cury
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