GERUNDIANDO
Voltando aos tempos de primeiro grau, das gostosas aulas de bom Português. E entrando e continuando a navegar no gerúndio, aquele tempo do verbo que fica mostrando o desenvolvimento de uma ação de continuidade. Que vai permanecendo em andamento, que se mostra duradoura, está contida numa ideia temporal.
Usando a orientação dos mestres da gramática, lembrando que é fácil derrapar e cair no gerundismo. Um vício de linguagem, que vai levando ao uso exagerado de combinações verbais. Assim se percebe em “quero estar viajando no final de semana”. Ou “Fique tranquilo, nosso gerente vai estar atendendo o seu pedido hoje mesmo”.
Gerundiar é ótimo para ganhar tempo e dar respostas inexatas. Onde o estar fazendo ou estar se preparando para é aquele momento bem, mas muito bem indefinido.
Gerundiando por aqui e por ali, acabei percebendo que o meu nome, Fernando, segue a mesma terminação em ando dos verbos da primeira conjugação nas orações. E esse algo em comum com o gerúndio dos verbos vai acontecendo também pros Armandos, Dilermandos, Ferdinandos, Hildebrandos e Sisenandos.
Os verbos da segunda conjugação nas orações têm terminação em endo. Que fica valendo pra nomes incomuns, como Ausendo, só acabei encontrando este. Os verbos da terceira conjugação nas orações, tem terminação em indo. Onde vão se destacando os Alcindos, Arlindos, Clarindos, Deolindos, Gumersindos, Joselindos, Rudesindos e Laurindos.
E o gerúndio surge de repente em momentos especiais das canções. No título, no refrão ou reforçando alguma ação dentro de um verso. Atenção pra ir achando a frase ou frases “gerundiantes”.
Começo com uma composição que usa muito o gerúndio. É “Águas de Março” de Tom Jobim. “É pau, é pedra, é o fim do caminho… É o vento ventando, é o fim da ladeira. É a viga, é o vão, festa da cumeeira. É a chuva chovendo, é conversa ribeira… É um pingo pingando, é uma conta, é um conto. É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando. É a luz da manhã, é o tijolo chegando… São as águas de março fechando o verão. É a promessa de vida no teu coração”.
A próxima musica segue na mesma linha temática de natureza, incluindo aves que vão se exibindo com seus cantos. Entra a engraçada “O Pato” de Jaime Silva e Neuza Teixeira. Foi lançada em 1960, num single de 78 RPM e depois incluída no álbum O Amor, O Sorriso e a Flor de João Gilberto. ”O pato vinha cantando alegremente, quém, quém. Quando um marreco sorridente pediu. Pra entrar também no samba, no samba, no samba. O ganso gostou da dupla e fez também quém, quém. Olhou pro cisne e disse assim “vem, vem”. Que o quarteto ficará bem, muito bom, muito bem”.
Agora uma série de canções que falam de momentos de relacionamentos e paixões.
A primeira é “Resposta”, com letra de Nando Reis e melodia de Samuel Rosa, presente no álbum Siderado de 1998 do Skank. O tema revela o fim de um namoro vivido pelo autor, envolvendo parceria através de versos, que ainda esperam retorno da ex. “Bem mais que o tempo. Que nós perdemos. Ficou pra trás também o que nos juntou. Ainda lembro o que eu estava lendo. Só pra saber o que você achou. Dos versos que eu fiz. E ainda espero resposta… Você está vendo o que está acontecendo. Nesse caderno sei que ainda estão. Os versos seus…”
Outra canção que fala de lembranças é “Esperando na janela” de Emmanuel Gama De Souza Almeida, Raimundo Nonato Dos Santos e Targino Alves Gondim Filho, sucesso na voz de Gilberto Gil. E que virou trilha do filme “Eu, Tu, Eles”, de 2000, de Andrucha Waddington e estrelado por Regina Casé. “Ainda me lembro do seu caminhar.
Seu jeito de olhar eu me lembro bem. Fico querendo sentir o seu cheiro. É daquele jeito que ela tem. O tempo todo eu fico feito tonto. Sempre procurando, mas ela não vem. Por isso eu vou na casa dela, ai, ai (ai, ai). Falar do meu amor pra ela, vai (ah, vai). Tá me esperando na janela, ai, ai (ah, ah). Não sei se vou me segurar”.
Do personalíssimo álbum “Memórias, Crônicas e Declarações” de Marisa Monte, 2001, vem a canção “A Sua” trazendo a saudade como foco principal. “Eu só quero que você saiba. Que estou pensando em você. Agora e sempre mais. Eu só quero que você ouça. A canção que eu fiz pra dizer. Que eu te adoro cada vez mais. E que eu te quero sempre em paz. Tô com sintomas de saudade. Tô pensando em você”.
Um hit faz parte do álbum “Enguiço” que marcou a estreia da cantora e compositora Adriana Calcanhotto, em 1990. Composta por Joao Donato, Caetano Veloso e Ronaldo Bastos, a música “Naquela Estação” traduz o momento da partida de alguém que está rompendo com seu antigo amor. ”Você entrou no trem. E eu na estação vendo o céu fugir. Também não dava mais para tentar. Lhe convencer a não partir. E agora, tudo bem. Você partiu. Para ver outras paisagens. E o meu coração embora.
Finja fazer mil viagens. Fica batendo parado naquela estação”.
Para Djavan, os sinais que caracterizam o perfil de uma musa perfeita e desejada encontram-se em “Eu te devoro”, canção principal do álbum “Bicho Solto” de 1998. “Teus sinais me confundem da cabeça aos pés. Mas por dentro eu te devoro… É um milagre. Tudo que Deus criou pensando em você. Fez a Via-Láctea, fez os dinossauros. Sem pensar em nada, fez a minha vida. E te deu”.
NOTA. Pesquisa histórica, musical e texto por Nando Cury
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