HOJE TEM FEIRA
Hoje, com a mais nítida certeza, há feiras montadas em diversos cantos da cidade.
Ceagesp, foto: Nando Cury
E pensando nisso, como surgiu o nome feira? Historicamente, uma lei do imperador romano Constantino (272 a 337 DC), favorável ao Cristianismo, tornou “feriae” todos os dias da Semana Santa. Do latim “feriae” significa feriado, dia de descansar. Depois, coube ao Papa São Silvestre (data desconhecida até 335 DC), contemporâneo de Constantino e o mesmo santo da Corrida paulistana, regulamentar os dias da semana. São Silvestre manteve o domingo, Dies Domenicus e dia do Senhor, e também o sábado, sabbatum ou shabbath, como dia consagrado ao descanso em hebraico, no Antigo Testamento. Afresco, de autor desconhecido, com Imperador Constantino e Papa São Silvestre.
Surpreendentemente no ano de 563 DC, um concílio de bispos da Igreja Católica reunidos na cidade de Braga, em Portugal, decidiu mudar os nomes dos outros dias da semana, que até então homenageavam os astros do sistema solar, tidos como deuses pagãos. Foi resgatada a antiga lei de Constantino e assim nasceram segunda, terça, quarta, quinta e sexta, associadas ao vocábulo “feriae”, que com o tempo sofreu uma alteração gramatical virando feira. O detalhe curioso é que essa mudança dos dias valeu apenas para os países de língua portuguesa.
Independentemente de nomear dias, feira também é sinônimo de data para se fazer compras, vendas e trocas. Existem quase 900 feiras livres pela cidade de São Paulo.
E na maioria delas há aqueles locais mais adequados para se degustar deliciosos pastéis, regados ao tradicional caldo de cana, iguaria líquida que pode ser misturada ao limão, gengibre, maracujá e outros. Aqui na minha rua tem uma feira onde compro peixes, temperos, legumes e frutas de ótima qualidade. E na qual funciona uma barraca do premiado Pastel da Maria. Em frente ao Pastel da Maria é extraída na hora a garapa da Kombi do Xande e da Cris.
Com bônus de som ao vivo, estacionamento grátis e muita fartura em produtos a preços compatíveis, às quartas-feiras até 22h, dá pra fazer um happy hour no bem organizado Varejão Noturno do Ceasa.
Na mesma linha gastronômica entra a tradicional Feira de Arte, Artesanato e Cultura da Praça da Liberdade, que funciona aos finais de semana. E associa comidas típicas da cozinha oriental como tempurás, guiozas, yakissobas, takoyaki, com peças de artesanato e artísticas feitas por imigrantes japoneses.
Focando em artesanato, volto pros anos 70, mirando minha saudosa jardineira jeans da Levi´s, que me ajuda a lembrar da Feira da Praça da República. Tempos românticos de estudos na Faculdade de Comunicação Objetivo e viagens pra Botucatu, desfilando pulseiras, sandálias e bolsas tiracolo de couro com um carimbo made in Feira Hippie. Tudo combinando com as camisetas e calças descoladas das galerias da Rua Augusta e dos primeiros shoppings paulistanos.
A partir dos anos 80 e 90 mudei o dial da feira. E passei a frequentar também as feiras da Praça Benedito Calixto, aos sábados e do Bexiga, aos domingos. O objetivo era empreender uma busca “arqueológica”, mirando os vinis.
No entanto, estas duas feiras mais a Feira do MASP, que funciona aos domingos, expõem muito mais do que vinis, dispõem de diversos objetos únicos para os fanáticos por antiguidades.
Quem vai à Feira do Bexiga na Praça Dom Orione, entre as ruas 13 de Maio e Rui Barbosa, pode aproveitar para fazer um programa completo, indo almoçar numa das famosas cantinas que ficam nos seus arredores.
Para os apaixonados por artes manuais, vale à pena uma visita à Feira de Arte e Artesanato Omaguás, localizada na praça do mesmo nome, em Pinheiros. Lá, num espaço muito verde e agradável, vários artesãos expõem seus trabalhos, usando técnicas tradicionais como pintura, escultura, cerâmica, crochê, costura, e novas técnicas sustentáveis ou baseadas na reciclagem. O legal é observar esses artistas criando e encomendar “on time” e sob medida as peças pra levar pra casa.
E ainda há para se acompanhar o concorrido segmento de feiras setoriais. De educação a construção. De turismo a fotografia. De saúde a metalurgia. De casamento a estética. De alimentos a automóvel. De moda a tecnologia.
De joias a instrumentos musicais. De móveis a aviões. De calçados a transportes. De iluminação a hotéis. De horror a beleza. De defesa e segurança a cerveja e vinho.
De lazer a higiene. De eletrônicos a pets. De barbearias a hospitais. De flores a drones. De fitness a pizzaria. De ponta a ponta em produtos e serviços, a cidade-negócios da América Latina se enfeira e renasce.
Nota 1. Sugestão de tema: Fernando Moya.
Nota 2. Pesquisa histórica, pesquisa musical e texto por Nando Cury
Nota 3. Esta crônica escrita complementa o podcast do Episódio 93, “Hoje tem feira”, do canal Semônica, criado por Nando Cury, produzido e distribuído pelo podcastmais.com.br
Nota 4. Canções de referência
- Domingo no Parque (Gilberto Gil), com Gilberto Gil e Os Mutantes
- Feira (Alzira Espíndola/ André Abujamra/ Cris Aflalo/ Gigante Brazil/ Iara Rennó/ Jerry Espíndola/ Mauricio Pereira/ Sergio Espíndola/ Rita Rameh/ Luiz Waack), com Rita Rameh e Luiz Waack
- Feira Livre (Adoniran Barbosa / Walter Santos), com Amanda Pacífico
- O menino das laranjas (Theo de Barros), com Elis Regina
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