Sol nascente
LÁ VEM O SOL

Se ele não aparece, o céu não pinta naquele azul. De cara feia, embaça e esfria a manhã. Quando escurece, não tem foto em passe partout. E na fruteira continuam verdes a banana e o limão.

Se ele não acorda, não faz sombra do sobrado na calçada, nem do menino correndo na rua. Nem da pipa presa na linha amarrada na mão do menino que sua. E fica faltando aquele calor do bem que traz a vitamina D. Calor que na hora zen, bronzeia geral. Calor que quando vem, seca as roupas do varal.

Sol nascenteSe eu levantar cedinho, bem cedinho, posso contemplar da varanda o majestoso astro-rei, que vai se espreguiçando devagarinho. Propaga seus raios por sobre os lençóis azuis celestes do horizonte. Até surgir de corpo inteiro, em 360 graus, como uma bola de fogo fulgurante.

Muitos batalham pelo seu lugar ao sol. E o sol está em todo lugar. Inclusive, ilumina e esquenta os versos de lindas canções que gosto de solar. Tem a canção “Quando o sol bater na janela do seu quarto”, de Dado Villa Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, que faz parte do disco As Quatro Estações do Legião Urbana, de 1989: “Quando o sol bater na janela do seu quarto. Lembra e vê que o caminho é um só. Por que esperar se podemos começar. Tudo de novo, agora mesmo.”

Falar do sol é voltar às aulas de biologia. Falar da fotossíntese, processo pelo qual a luz do sol é absorvida pela folha, através do elemento que dá o tom verde, a clorofila. Juntos com outros ingredientes produzem os compostos orgânicos (carboidratos ou açúcares) que são vitais para a planta viver e crescer. Em “Luz do Sol”, de 1985, uma de suas mais inspiradas composições, Caetano Veloso registra essa função vital da grande estrela: “Luz do sol que a folha traga e traduz. Em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força, em luz”.

O pôr do sol é algo mágico, extasiante, de tirar o fôlego. Na memória, guardo os finais de tarde que curti o pôr do sol, lá no mirante da Igrejinha de Santo Antônio de Rubião Junior, em Botucatu. Em 1973, o talentoso Luís Melodia reverencia este fenômeno com “Magrelinha”. “O pôr-do-sol. Vai renovar, brilhar de novo o seu sorriso. E libertar Da areia preta e do arco-íris cor de sangue … O sol não adivinha. Baby, é magrelinha.” Essa paisagem ensolarada pode representar uma terapia, como recomendam Silva e Ludmila em “Um pôr do sol”: “Você não anda bem, precisa relaxar. Precisa de uma praia. Um pôr do sol na praia. Um pôr do sol à beira-mar.”

Sol nascenteTrês músicas dos Beatles falam da alegria de estar e caminhar na companhia do sol. Uma do álbum Revolver, de 1966, chamada “Good day sunshine”, cantada por Paul que tem ao piano o maestro George Martin: “Good day Sunshine… I feel good, in a special way. I’m in love and it’s a sunny day. Good day Sunshine. We take a walk, the sun is shining down. Burns my feet as they touch the ground”. As outras duas estão incluídas no incrível Abbey Road, de 1969. São elas “Sun King”, de Lennon & Mc Cartney, que começa com um lindo vocal. E aquela que George Harrison compôs numa tarde de sol na casa do amigo Eric Clapton. A lindíssima “Here comes the sun”. Little Darling. It’s been a long, cold lonely winter. Little Darling. It feels like years since it’s been here. Here comes the sun. Here comes the sun, And I say, It’s all right”.

Com “You are the Sunshine of my life”, indicada para Canção do Ano de 1972 e número 1 entre os álbuns de R&B por três semanas, Stevie Wonder ganhou um Grammy Award como a melhor performance masculina desse ano. Finalizo, citando os iluminados versos desta gloriosa música: “You are the sunshine of my life. That’s why I’ll always be around. You are the apple of my eye. Forever you’ll stay in my heart. “

NOTA.: pesquisa histórica, musical e texto por Nando Cury

Imagens do acervo pessoal

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