Lenine

LENINE: UMA BIOGRAFIA MUSICAL 

Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, o Lenine, nasce em Recife aos 2 de fevereiro de 1959. O interesse pela música desperta logo quando criança. Ouve e inspira-se nas obras de Bach, Chopin, Jackson do Pandeiro, Miltinho, Cyro Monteiro, Dorival Caymmi, o embolador paraense Ary Lobo. Em 1972 conhece o Clube da Esquina dos mineiros Milton Nascimento e Lô Borges que vira sua referência especial.  No rock encontra Led Zepelin, The Police, Frank Zappa. Escolhe o violão como seu instrumento. E vai desenvolvendo uma habilidade rítmica de tocá-lo que se torna parte de sua identidade. Lenine não se identifica com o aprendizado musical formal no Conservatório de Pernambuco, que não conclui. E também não termina a Faculdade de Química. Em Recife, nos anos 70, participa do conjunto Flor de Cactus, que explora o maracatu, a ciranda, o frevo e o baião. E é formado pelos pernambucanos Zé Rocha (violão), André Lobo (violão) e Plinio Santos que Lenine conhece num festival universitário. Mostra a eles sua habilidade de cantar e compor e entra para a banda. No final de 1979, é o vocalista do primeiro registro do grupo: um compacto com as canções “Festejos” (Zé Rocha e André Lobo) e “Giração” (Lenine). 

Nos anos 80, para expandir suas atividades musicais como um cantautor que se autodenomina, Lenine vai morar, com companheiros de sua geração, no Rio de Janeiro na Casa 9, uma vila em Botafogo. Está entre eles o pernambucano Lula Quiroga que se torna seu parceiro musical constante, bem como os paraibanos Bráulio Tavares, Ivan Santos, Pedro Osmar, Fubá, Tadeu Mathias e Julio Lurdemir. A primeira oportunidade de mostrar suas criações surge no festival MPB Shell, realizado em 1981 pela TV Globo no Maracanãzinho, participando com a canção “Prova de fogo”, em parceria com Zé Rocha. 

Outra ideia é mostrar as suas composições e de amigos conterrâneos em shows, como os que acontecem à meia noite no Teatro Ipanema. É assim que em 1983, o produtor musical Roberto Menescal conhece o trabalho de Lenine e de Lula Quiroga e os convida para fazer o disco “Baque Solto”. O disco revela os estilos mais intimistas de Lenine e de Lula Quiroga que compõem, fazem os arranjos, produções e interpretações. Mistura canções de pop rock com baião, frevo e maracatu. E, infelizmente, não é tão bem recebido pela mídia e nem pelo público. Das canções interpretadas por Lenine destacam-se:  a instrumental “Auto dos Congos” de Lenine e Pedro Osmar, ”Trem fantasma” (Lenine e Lula Quiroga),  “Prova de fogo (Lenine, Zé Rocha) e “Maracatu Silêncio” (Zé Rocha, Erasto Vasconcelos). 

Segue um período difícil para Lenine. Conseguindo apenas trabalhos temporários, como a criação de sambas para blocos carnavalescos. É sua mulher Anna Barroso, produtora de TV, quem garante o sustento da família que já conta com três filhos do primeiro casamento. Lenine vai ampliando seus contatos no meio artístico e uma cantora fica interessada por uma música sua. É Elba Ramalho que grava “Miragem do porto” de Lenine e Bráulio Gomes, para o seu álbum “Encanto” de 1992.” Eu sou aquele navio no mar sem rumo e sem dono. Tenho a miragem do porto, pra reconfortar meu sono. E flutuar sobre as águas, na maré do abandono. Ê, lá no mar eu vi uma maravilha. Vi o rosto de uma ilha numa noite de luar”. 

LenineMas, em 1993, acontece a virada na carreira de Lenine com o lançamento, pela Velas, do CD “Olho de peixe”. O álbum marca o encontro de Lenine com o percussionista carioca Marcos Suzano. E serve como seu cartão de visita para turnês no exterior. “Olho de peixe” traz a produção e os arranjos de Lenine, Marcos Suzano e Denilson Campos. Além de Lenine, na voz e violão e Marcos Suzano em todos os instrumentos de percussão, traz as participações de Carlos Malta no sax, Fernando Moura nos teclados e Paulo Muylaert na guitarra. Apresenta como canções imperdíveis: “Acredite ou não” (Lenine, Bráulio Tavares), “Olho de peixe” (Lenine), “Gandaia das ondas/Pedra e Areia” (Lenine, Dudu Falcão) e “O último pôr do sol” (Lenine, Lula Quiroga). 

 

LenineEm 1997 Lenine apresenta o CD “O dia em que faremos contato”” que contém canções especiais como “A Ponte” de Lenine e Lula Quiroga, “Marco Marciano”, de Lenine e Bráulio Tavares com Lenine na voz e viola de 10 cordas. E a mais emblemática “Hoje eu quero sair só” em co-autoria com Mu Chebabi e Caxa Aragão. “Se você quer me seguir, não é seguro. Você não quer me trancar, num quarto escuro. Às vezes parece até, que a gente deu um nó. Hoje eu quero sair só. Você não vai me acertar à queima-roupa. Vem cá, me deixa fugir, me beija a boca”. 

 

Lenine - Na pressãoEm 1999, Lenine lança o seu mais refinado álbum “Na pressão”, com a irreverente “Jack Soul Brasileiro”, composta dois anos antes a pedido de Fernanda Abreu para homenagear o grande compositor paraibano Jackson do Pandeiro. As outras canções imperdíveis são: “Paciência” (Lenine, Dudu Falcão), “Rede” (Lenine), “A medida da paixão” (Lenine, Dudu Falcão) e “Rua da Passagem” (Lenine, Arnaldo Antunes).  

Em 2002 chega “Falange canibal” que confere a Lenine o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro desse ano. Algumas boas razões para isso são: “Lavadeira do Rio” (Lenine, Bráulio Tavares), com o apoio das vozes da Velha Guarda da Mangueira. “Nem o sol, nem a lua, nem as estrelas” (Lenine, Dudu Falcão), “O silêncio das estrelas” (Lenine, Dudu Falcão), “No pano da jangada” (Lenine, Paulo César Pinheiro) e “O homem dos olhos de ráio X” (Lenine), faixa que alavanca o disco. 

“Lenine In Cité” é o primeiro álbum ao vivo do cantor. Gravado na Cité de La Musique em Paris, é lançado em 2005, pela Sony BMG. Recebe indicações e vence nas categorias de Melhor Álbum de Pop-Rock Contemporâneo Brasileiro e Melhor Canção Brasileira com “Todas Elas Juntas Num Só Ser”, que contém a ideia brilhante de resgatar as musas de compositores famosos, brasileiras ou estrangeiras, comparando-as com a exaltada da canção: “Não canto mais Bebete, nem Domingas. Nem Xica, nem Tereza, de Ben Jor. Nem Drão, nem Flora, do bahiano Gil. Tereza, nem Luiza, do maior. Já não homenageio Januária, Joana, Ana, Bárbara, de Chico. Nem Yoko, a nipônica de Lennon.” Em “In Cité” Lenine é acompanhado pela exímia instrumentista cubana Yusa, no baixo e vocal, e Ramiro Musotto na percussão.  

Lenine - LabiataLabiata” é uma espécie rara de orquídea, flor que Lenine adora e cultiva em local especial de Petrópolis, RJ. Assim vira nome do sexto álbum de estúdio do cantor que faz uma turnê mundial, passando por Europa, África, Ásia, e outros lugares. As canções de destaque são: “Samba e leveza” (Lenine, Chico Science) e “O que me interessa” de Lenine e Dudu Falcão. “Daqui desse momento. O meu olhar pra fora. O mundo é só miragem. A sombra do futuro. A sobra do passado. Assombram a paisagem. Quem vai virar o jogo. E transformar a perda. Em nossa recompensa. Quando eu olhar pro lado. Eu quero estar cercado. Só de quem me interessa”.  

Lenine é também escolhido para fazer trilhas para novelas e outros programas. Algumas de suas criações ficam famosas como o tema “De sabugo a Visconde” para o Sítio do Pica pau Amarelo de 2008, o tema da Mula sem cabeça, em parceria com Bráulio Tavares pra Turma do Folclore, de 2010. E “Aquilo que dá no coração”, o tema de abertura da novela Passione da Globo de 2010. “Aquilo que dá no coração. E nos joga nessa sinuca. Que faz perder o ar e a razão. E arrepia o pêlo da nuca. Aquilo reage em cadeia. Incendeia o corpo inteiro. Faísca, risca, trisca, arrodeia. Dispara o rito certeiro”. 

LenineChão”, o sétimo álbum de estúdio de Lenine, veste pouca instrumentação e carrega traços e sons familiares. A produção é em parceria com seu filho Bruno Giorgi. A capa usa foto da esposa Anna, registrando o neto Tom, filho do músico João Cavalcanti, em seu colo. Começa com “Chão”, de Lenine e Lula Quiroga, que revela uma letra bem inspirada, ancorada pelo violão e sons onomatopéicos. Segue com “Se não for amor, eu cegue” de Lenine e Lula Quiroga. O canto do canário belga Frederico VI entra sincronizado com a mais linda do disco: “Amor é pra quem ama”, de Lenine em parceria com Ivan Santos. Lenine vira um trovador na sua “Uma canção e só”. Faz um alerta em “Isto é só o começo”, de Lenine e Carlos Rennó. E questiona com “De onde vem a canção”. O show de “Chão” é considerado pela crítica como um dos espetáculos mais inovadores do Rock in Rio. É apresentado em dezenas de cidades brasileiras, além de turnês pela Alemanha, Argentina, Chile, França, Itália, Holanda, Portugal e Uruguai.  

Lenine - CarbonoEm 2015, Lenine prepara mais um álbum de estúdio. É o intenso e conceitual “Carbono”. Um resgate nas finalidades dos elementos químicos, que um dia o cativaram? A música de abertura “Castanho”, de Lenine e Carlos Posada, já anuncia a inventividade presente no álbum. Segue a vibrante “O impossível” de Lenine e Vinicius Calderoni. E, depois, a surpreendente “À meia noite dos tambores silenciosos” de Lenine, Bráulio Tavares e Sérgio Natureza, que traz arranjos de metais, tambores e flautas com todos os músicos tocado ao mesmo tempo  e ao vivo. “Quem leva a vida sou eu” é uma canção autoral com foco na objetividade. E como música especial aparece “Simples assim”, de Lenine e Dudu Falcão. 

“Em trânsito”, lançado em 2018, é resultado de mais uma experimentação criativa do cantautor. Lenine monta primeiro um show para um pequeno grupo de amigos. O show é gravado ao vivo no Teatro Imperator Centro Cultural João Nogueira, Rio de Janeiro e vira um CD e um DVD. O CD “Em trânsito” tem 10 canções, sendo 7 inéditas, destacando temas como a urgência pela brevidade do tempo e o combate à “Intolerância”, que nomeia a canção de Lenine e Ivan Santos. As outras inéditas são “Leve e suave” de Lenine, “Sublinhe e revele” de Lenine, “Bicho saudade” de Lenine e João Cavalcanti, “Ogan Arê” de Lenine e Lula Quiroga e “Umbigo” de Lenine e Bráulio Tavares. 

Em 2020, a canção “Leve e Suave” de Lenine ganha um videoclipe onde o autor aparece mergulhando nas águas de Fernando de Noronha e homenageando os 40 anos do Projeto Tamar que, nesse ano, atinge o número de 40 milhões de tartarugas protegidas. “Há de ser leve, um levar suave. Nada que entrave nossa vida breve. Tudo que me atreve, a seguir de fato. O caminho exato da delicadeza. E ter a certeza de viver no afeto. Só viver no afeto”. 

Imagens: Capas de álbuns do artista e fotos

Ouça a versão em podcast com as músicas:


 

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