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OS MUITOS CARNAVAIS DE CAETANO

Caetano Veloso sempre foi surpreendente, irreverente, culto, avançado no seu tempo. Se fosse um Beatle seria uma mistura de Paul, John e George. Como eles, surgiu artisticamente nos anos 60, época dos famosos festivais da época que a televisão, em preto e branco, engatinhava ao vivo. Destacou-se nos desafios dos programas de TV, que propunham a adivinhação de palavras de letras de músicas. Foi um dos protagonistas do Tropicalismo. Apaixonado pela Bahia, sua terra natal, pelas riquezas do seu país e a música latina, navegou por diferentes ritmos, lançou vocábulos. Sua formação eclética e tradição o mantiveram ligado ao Carnaval. A exemplo de antigos compositores, que estudou e sempre venerou, Caetano criou músicas especiais para se cantar em Folias Carnavalescas de anos seguintes. E assim surgiram composições inesquecíveis, como as que foram reunidas em seu LP “Muitos Carnavais”, de 1977. Deste incrível álbum vamos falar sobre algumas canções.

“Atrás do Trio Elétrico” foi lançada em 1969, pouco antes do cantor embarcar para Londres e cumprir um exílio de mais de dois anos. Virou hit nas rádios e espalhou pra todos os cantos do país as novidades do então carnaval baiano, inspirado na contracultura. E que, desde 1950, com Dodô e Osmar, já utilizava as guitarras elétricas, tocando frevos sobre caminhões, sacudindo trios e blocos pelas ruas de Salvador. “Atrás do trio elétrico. Só não vai quem já morreu. Quem já botou pra rachar. Aprendeu, que é do outro lado. Do lado de lá do lado. Que é lá do lado de lá. O sol é seu. O som é meu. Quero morrer. Quero morrer já. O som é seu. O sol é meu. Quero viver. Quero viver lá. Nem quero saber se o diabo. Nasceu, foi na Bahia. O trio elétrico. O sol rompeu. No meio-dia.”

“Chuva, suor e cerveja” é um frevo de 1971, que teve um duplo gatilho na sua divulgação. De um lado a gravação de Caetano, que apareceu em Agosto no Brasil, e aproveitou para gravar e lançar um compacto com a canção. Paralelamente, Gal Costa incluiu “Chuva, suor e cerveja” no seu badalado disco “Fa-Tal: Gal a Todo Vapor”, gravado ao vivo, em 1971 e que, de quebra, ajudou a enaltecer as bases do Movimento Tropicalista. “Não se perca de mim. Não se esqueça de mim. Não desapareça. A chuva tá caindo. E quando a chuva começa. Eu acabo de perder a cabeça. Não saia do meu lado. Segure o meu pierrot molhado. E vamos embolar ladeira abaixo. Acho que a chuva ajuda a gente a se ver. Venha, veja, deixa, beija, seja. O que Deus quiser. A gente se embala, se embora, se embola. Só para na porta da igreja. A gente se olha, se beija, se molha. De chuva suor e cerveja”

“Frevo Novo” é de janeiro de 1973, já com Caetano de volta ao Brasil. E vai ser a brasa musical para o Carnaval daquele ano. A canção traz explícita a preferência pelo carnaval de rua em detrimento ao carnaval “sem graça” de salão. Além, disso, destaca qual era o local preferido para o evento. ”A praça Castro Alves é do povo. Como o céu é do avião. Um frevo novo, um frevo, um frevo novo. Todo mundo na praça e muita gente sem graça no salão. Mete o cotovelo e vai abrindo o caminho. Pegue no meu cabelo pra não se perder e terminar sozinho. O tempo passa, mas na raça eu chego lá. É aqui nesta praça que tudo vai ter de pintar (uh)”.

Nesse mesmo ano, acolhido pela cidade do Rio de Janeiro, sede de sua carreira e moradia, na canção “Deus e o diabo” Caetano faz reverência também à cidade maravilhosa que, em carnaval, estava “no mesmo pé” de Salvador, Bahia. Aproveita a ocasião e não deixa barato o tempo de exílio, destilando sua contestação política. “Você tenha ou não tenha medo. Nego, nega, o Carnaval chegou. Mais cedo ou mais tarde acabo. De cabo a rabo com essa transação de pavor. O carnaval é invenção do diabo. Que deus abençoou. Deus e o diabo no Rio de Janeiro. Cidade de São Salvador.”

Mas, laço é laço, Caetano mantém-se ligado às suas raízes. Em 1974, apresenta para o carnaval a canção “Cara a cara”, que vem com mais uma apologia à terra natal e nova homenagem ao trio elétrico de Dodô e Osmar. “Nas suas andanças, danças, danças, danças, danças, danças na multidão. Veja se de vez em quando encontra, contra, contra, contra, contra os pedaços do meu coração. Tira essa máscara. Cara à cara, cara à cara, cara à cara, quero ver você. No trio elétrico rico, rico, rico, rico, rico, rico desendoidecer, De alegria, ria, ria, ria. Ria, que a luz se irradia. Dia, dia, dia, dia, dia de sol na Bahia.”

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