PORTAS E JANELAS ABERTAS
Elas não têm fechaduras, nem cartões de acesso, nem olhos mágicos. Elas não trazem os segredos das chaves, sequer a segurança das senhas. Abrir as portas só em casos muito profundos, na beira ou esteira dos códigos de nossa privacidade. Abrir as janelas sem tramelas ou venezianas, só com muito cuidado, para evitar arranhões e marcas na vaidade. Afinal, que portas e janelas são essas? Quando se trata de abrir as portas e janelas das salas do coração, vale metaforar. E é assim que vagam cimentadas nas canções.
Na época em que uma paixão mais séria competia com a boêmia, assolava o medo de se deixar levar pelo amor e perder a liberdade das noites nos bares. “Abre a janela”, de Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr, retoma este clima e marca um dos sucessos do cantor das multidões Orlando Silva, acompanhado pelo Conjunto Regional RCA Victor na gravação original de 1938. “Abre a janela, formosa mulher e vem dizer adeus a quem te adora. Apesar de te amar como sempre amei. Na hora da orgia eu vou embora.”
“Janelas Abertas” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes foi lançada em 1958, num 78 RPM de Elizeth Cardoso. No ano seguinte recebeu gravação de Sylvinha Teles. Em 1999 estava presente no brilhante disco “Gal Costa canta Tom Jobim”. Em 2004 mais uma bela gravação de Zélia Duncan. E não foram só essas interpretações que levaram adiante a poesia de Vinicius de Moraes.” Sim. Eu poderia fugir, meu amor. Eu poderia partir. Sem dizer pra onde vou. Nem se devo voltar… Mas. Quero as janelas abrir. Para que o sol possa vir iluminar nosso amor. “
“Doce Vampiro”, de 1979, faz parte do primeiro LP solo de Rita Lee e Roberto de Carvalho. E nasce num momento muito especial em que o casal passa a conviver juntos. Rita usa toda a sua criatividade poética e propõe a paixão por um parceiro vampiro imaginário. “Doce vampiro, sob a luz do luar… Mas nada disso importa. Vou abrir a porta pra você entrar. Beija a minha boca até me matar. De amor”.
Logicamente que falando de coração, não faltam músicas dor de cotovelo. Tem, mesmo, tudo a ver, né? Começando por “Espumas ao vento” de José Acccioly Cavalcante Neto, que ficou famosa com o cearense Fagner, em 1997. “Sei que errei, ‘to aqui pra te pedir perdão. Cabeça doida, coração na mão. Desejo pegando fogo. E sem saber direito a hora e o que fazer. Eu não encontro uma palavra só pra te dizer. Ah, se eu fosse você eu voltava pra mim de novo. E de uma coisa fique certa, amor. A porta vai estar sempre aberta, amor.”
Ancorada por uma linda melodia como base, a canção “Vambora” de Adriana Calcanhoto, lançada em 1998, carrega um misto de rastros de saudade e esperança da volta. “Entre por essa porta agora. E diga que me adora. Você tem meia hora. Pra mudar a minha vida. Vem, vambora. Que o que você demora. É o que o tempo leva.”
No álbum “Estandarte” de 2008, do Skank, tem “Ainda gosto dela”, uma parceria de Samuel Rosa e Nando Reis. Nela, Samuel Rosa divide os vocais com Negra Li. “Tempo atrás. Esse tempo está lá trás. Eu não tenho mais o que fazer, não. E eu ainda gosto dela. Mas ela já não gosta tanto assim.”.
Pra encerrar, uma composição de Arnaldo Antunes e Wharton Gonçalves Coelho Filho, que está no LP Iê, iê, iê do Arnaldo Antunes, de 2009. Destaque pra bem trabalhada letra de “A casa é sua”. “Não me falta cadeira. Não me falta sofá. Só falta você sentada na sala. Só falta você estar. Não me falta parede. E nela uma porta pra você entrar. Não me falta tapete. Só falta o seu pé descalço pra pisar. Não me falta cama. Só falta você deitar. Não me falta o sol da manhã. Só falta você acordar. Pras janelas se abrirem pra mim.”
OUÇA O PODCAST DESTE TEXTO COM AS MÚSICAS. CLIQUE AQUI.
Compartilhe: