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PORTAS E JANELAS NAS CANÇÕES BRASILEIRAS 

Elas não têm fechaduras, nem códigos de acesso, nem campainhas. Elas não trazem os segredos das chaves, sequer a privacidade das senhas. Abrir ou fechar as portas só em casos muito profundos, na beira ou esteira da privacidade de cada um. Abrir ou fechar as janelas, que não tem tramelas ou venezianas, só com muito cuidado, para evitar arranhões e marcas. Afinal, que portas e janelas são essas? Quando se trata de abrir as portas e janelas da emoção, aquelas ligadas ao coração, ou as da razão associadas à mente, os caminhos são outros. Vamos ver o que querem dizer as portas e janelas que aparecem em conhecidas canções brasileiras.  

Na época em que uma paixão mais séria competia com a boemia, assolava o medo de se deixar levar pelo amor e perder a liberdade das noites nos bares. O pedido de desculpas ou a justificativa vinha numa serenata. “Abre a janela” de Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr, retoma este cenário. E foi um dos sucessos do cantor da multidão Orlando Silva numa gravação original de 1937. “Abre a janela, formosa mulher e vem dizer adeus a quem te adora. Apesar de te amar como sempre amei na hora da orgia eu vou embora.” 

“Janelas Abertas” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes foi lançada em 1958, num 78 RPM de Elizeth Cardoso. No ano seguinte recebeu gravação de Sylvinha Teles. Em 1999 estava presente no lindo disco “Gal Costa canta Tom Jobim”. A letra de Vinicius vem carregada com o tom do amor romântico. ” Sim. Eu poderia fugir, meu amor. Eu poderia partir. Sem dizer pra onde vou. Nem se devo voltar… Mas. Quero as janelas abrir. Para que o sol possa vir iluminar nosso amor. “ 

O álbum “Rosa dos Ventos-Show Encantando”, lançado em 1971, ajudou a mostrar definitivamente o talento musical de Maria Bethania. “Janelas abertas Nº 2”, de Caetano Veloso, presente no disco é um dos destaques. Uma letra instigante que fala de portas que dão pra dentro e de labirintos que podem representar os pensamentos oprimidos em difíceis momentos políticos. 

Uma canção marcante do álbum “Acabou chorare”, de 1972 dos Novos Baianos, é “Preta pretinha” composta pelo integrante da banda Luís Galvão.  Traz referências a uma ex namorada de Galvão chamada Socorro, citada em “Só, somente Só, assim vou te chamar.” E inclui uma frase melódica da música “Cana Verde” da dupla Tonico e Tinoco, de 1958, com letra modificada “abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer”. Em Cana Verde de Tonico e Tinoco a frase original é “abre a porta ou a janela e vem ver quem é que eu sou’”. 

“Atrás da porta”, é uma das mais belas obras da parceria de Chico Buarque com Francis Hime. Uma linda melodia com letra muito inspirada, que fala do fim de um relacionamento. E lembra como testemunha um tapete atrás da porta. A canção recebeu a divina interpretação de Elis Regina em seu álbum “Elis”, de 1972. “Quando olhaste bem nos olhos meus. E o teu olhar era de adeus. Juro que não acreditei …Sem carinho, sem coberta. No tapete atrás da porta. Reclamei baixinho”. 

“Doce Vampiro” faz parte do primeiro LP solo de Rita Lee e Roberto de Carvalho, de 1979. E nasce num momento muito especial em que o casal passa a conviver juntos. Rita, usa toda a sua criatividade poética e propõe a paixão por um parceiro vampiro imaginário e sua vítima, para explicar relações amorosas complexas, que envolvem sedução, exposição e perigo, em formas destrutivas mas que se completam. “Doce vampiro, sob a luz do luar…Mas nada disso importa. Vou abrir a porta pra você entrar. Beija a minha boca até me matar. De amor”. 

“Espumas ao vento”, de José Accioly Cavalcante Neto , ficou famosa na voz de Fagner, em 1997. A letra traz um pedido de perdão e alimenta a esperança da volta. “Sei que aí dentro ainda mora um pedacinho de mim. Um grande amor não se acaba assim. Feito espumas ao vento… Ai, se eu fosse você eu voltava pra mim de novo… E de uma coisa fique certa, amor. A porta vai estar sempre aberta, amor. O meu olhar vai dar uma festa, amor. Na hora que você chegar”. 

“Vambora”, composição de Adriana Calcanhoto, de 1998, revela o momento de espera. A porta é vista como o coração aflito pela chegada da pessoa amada. “Entre por essa porta agora. E diga que me adora. Você tem meia hora. Pra mudar a minha vida.” 

 A canção “Ainda gosto dela”, parceria de Samuel Rosa e Nando Reis, é a faixa principal do álbum “Estandarte” do Skank de 2008 e que traz a participação especial de Negra Li. A letra fala de um relacionamento rompido no qual a frase com a porta aberta indica um lado ainda preso, em contraposição à ausência de luz na janela, que sinaliza a dificuldade de volta. “Hoje acordei sem lembrar. Se vivi ou se sonhei. Você aqui nesse lugar. Que eu ainda não deixei… E eu ainda gosto dela. Mas ela já não gosta tanto assim. A porta ainda está aberta. Mas da janela já não entra luz.” 

“A casa é sua” , de Arnaldo Antunes, Wharton Gonçalves Coelho Filho, faz parte do LP Iê iê iê, de 2009. E conta a história de alguém que tem uma casa montada que só vai ficar completa com a presença da amada. Só ela pode entrar pela porta, abrir as janelas e dar vida a tudo. “Não me falta cadeira. Não me falta sofá. Só falta você sentada na sala. Só falta você estar. Não me falta parede. E nela uma porta pra você entrar…Não me falta cama. Só falta você deitar. Não me falta o sol da manhã. Só falta você acordar. Pras janelas se abrirem pra mim. E o vento brincar no quintal. Embalando as flores do jardim. Balançando as cores no varal”. 

A canção “Esperando na janela”, de Manuca Almeida, Targino Gondim e Raimundinho do Acordeon, está na Trilha do filme “Eu, Tu, Eles”, comedia que se passa no sertão brasileiro. Tem a direção de Andrucha Waddington e o elenco com Regina Casé, Lima Duarte, Stenio Garcia e Luiz Carlos Vasconcelos. A trilha virou um CD de Gilberto Gil de 2000. “Ainda me lembro do seu caminhar. Seu jeito de olhar, eu me lembro bem.
Fico querendo sentir o seu cheiro. É daquele jeito que ela tem… Por isso eu vou na casa dela, ai, ai. Falar do meu amor pra ela, vai. Tá me esperando na janela, ai, ai. Não sei se vou me segurar”. 

A letra da canção “Portas” de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Eduardo Magalhães de Carvalho remete às oportunidades que a vida oferece. Às vezes há várias opções, várias portas abertas para se escolher. A decisão de qual é melhor cabe a cada um de nós. ”Nesse corredor, portas ao redor. Querem escolher, olha só. Uma porta só, uma porta certa. Uma porta só, tentam decidir a melhor. Qual é a melhor? Não importa qual, não é tudo igual. Mas todas dão em algum lugar”. 

“Me conta da tua janela”, composta por Ana Clara Caetano Costa, traz a vista da janela de alguém como um alento pra curar a ausência e trazer as boas lembranças à amada. Está no EP de Anavitória, de 2020.  “Passa aqui depois das seis. Sei lá, tô com saudade de te encontrar. É que aqui em Sampa tá quieto demais. E as minhas paredes parecem fronteiras. Se não der, tenta ligar. A gente resume a distância. Me conta da tua janela. Me diz que o mundo não vai acabar”. 

Nota 1 – Principais fontes consultadas:  whiplash; veja abril; novabrasil 

Nota 2 – Pesquisas histórica e musical, texto por Nando Cury