Pixinguinha e Orlando Silva

ROSA: CANÇÕES ORIGINAIS E SUAS VERSÕES 

A canção “Rosa” aparece entre as 100 maiores canções brasileiras de todos os tempos. A melodia, em ritmo de valsa-choro, apresenta três partes melódicas, seguindo a tradição de composições de chorinho. Foi criada em 1917 pelo mestre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, com o nome de “Evocação”. A letra chegou bem depois, nos anos 30. Seus versos, com evidências parnasianas, é um culto à beleza, à perfeição da mulher amada e mudou o nome da música para “Rosa”. Sua autoria apresenta duas histórias. O criador pode ter sido Otávio de Sousa, um mecânico muito inteligente do bairro carioca de Engenho de Dentro, que era grande admirador de Pixinguinha. Conta-se que, sabendo onde encontrar o músico, encheu-se de coragem e entregou-lhe uma letra escrita à mão, pedindo para Pixinguinha experimentar em sua melodia. O mestre leu, testou e ficou encantando com os versos de Otávio, que infelizmente faleceu novo, sem imaginar o que aconteceria na sua parceria com o músico. Outra possibilidade de autoria da letra pode ser atribuída ao compositor, cantor e violonista Cândido das Neves, que foi parceiro de Pixinguinha em algumas composições e que também faleceu, precocemente, em 1934.  

“Rosa” traz uma linda melodia, mas de difícil interpretação vocal, pois o compositor faz uso de legatos ou ligaduras, que são linhas curvas aplicadas acima ou abaixo de um grupo de notas na partitura, indicando que, ao serem tocadas ou cantadas, as notas devem ser bem ligadas, sem interrupções. No canto, isso significa que a melodia apresenta poucos espaços para o cantor tomar fôlego. 

O primeiro cantor a gravar “Rosa” foi Orlando Silva que já havia escolhido “Carinhoso” do próprio Pixinguinha e João de Barro, o Braguinha, para compor o lado A de seu novo disco de 78 RPM, que seria lançado em maio de 1937. Assim “Rosa” entrou no lado B. Na incrível interpretação de Orlando, “o cantor das multidões”, as duas viraram clássicos e sucessos do artista.  

Pixinguinha e Orlando Silva
Orlando Silva (esq) e Pixinguinha (dir)

Quanto às versões de “Rosa” escolhemos algumas especiais, imaginando, como num podcast, que cada cantor ou cantora interpretasse um verso da música. Orlando Silva, o pioneiro, abre e canta a primeira estrofe: ”Tu és divina e graciosa Estátua majestosa do amor Por Deus esculturada E formada com ardor Da alma da mais linda flor De mais ativo olor Que na vida é preferida pelo beija-flor “. 

A cantora moçambicana Lenna Bahule, acompanhada por percussão, gravou uma versão de “Rosa” ao vivo no palco do Espaço Mundo Pensante, quando esteve em São Paulo, em 2013. E canta a estrofe: “Se Deus me fora tão clemente. Aqui nesse ambiente de luz. Formada numa tela deslumbrante e bela. Teu coração junto ao meu lanceado. Pregado e crucificado sobre a rósea cruz. Do arfante peito teu.”  

Uma competente versão de “Rosa” faz parte do disco “The Essential Luiz Melodia”, lançado pela EMI, em 1998. Melodia canta a estrofe: “Tu és a forma ideal estátua magistral. Oh, alma perenal. Do meu primeiro amor, sublime amor. Tu és de Deus a soberana flor. Tu és de Deus a criação. Que em todo coração sepultas um amor. “ 

André Mehmari e Ná Ozetti

 

Em 2004 saem o DVD  e o CD “Piano e voz” do show e turnê de André Mehmari e Ná Ozetti, trazendo uma linda versão de “Rosa”.

Assim, Ná canta: “O riso, a fé, a dor em sândalos olentes cheios de sabor. Em vozes tão dolentes como um sonho em flor. És láctea estrela. És mãe da realeza. És tudo enfim que tem de belo. Em todo resplendor da santa natureza.”  

 

 

 

Caetano VeosoFã de Pixinguinha e de Orlando Silva, Caetano Veloso lança em 1997, um compacto duplo com uma irretocável versão de “Rosa”. E canta a estrofe: “Perdão se ouso confessar-te. Eu hei de sempre amar-te. Oh flor meu peito não resiste. Oh meu Deus o quanto é triste. A incerteza de um amor. Que mais me faz penar em esperar. Em conduzir-te um dia. Ao pé do altar.” 

 

 

Marisa Monte

 

 “Rosa” também está presente no LP Mais de 1990,  numa versão imperdível de Marisa Monte, que canta a estrofe final da canção: “Jurar, aos pés do Onipotente. Em preces comoventes de dor. E receber a unção da tua gratidão. Depois de remir meus desejos. Em nuvens de beijos. Hei de envolver-te até meu padecer. De todo fenecer.” 

 

Outras versões recomendadas : Toquinho; Altamiro Carrilho e seu conjunto; Edu da Gaita; Baden Powell; Bocatto e conjunto; Paulo Moura e Os Batutas 

 ROSA (Letra) 

Tu és
Divina e graciosa, estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma, da mais linda flor, de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor

Se Deus
Me fora tão clemente aqui neste ambiente
De luz, formada numa tela, deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu, lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu

Tu és
A forma ideal, estátua magistral, ó alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és
De Deus, a soberana flor
Tu és
De Deus, a criação, que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé, a dor, em sândalos olentes, cheios de sabor
Em vozes tão dolentes, como um sonho em flor

És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo, enfim, que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão
Se ouso confessar que eu hei de sempre amar-te
Ó flor, meu peito não resiste
Ó meu Deus, quanto é triste
A incerteza de um amor que mais me faz penar e em esperar
Em conduzir-te um dia ao pé do altar

Jurar
Aos pés do Onipotente, em prece comovente
De dor, e receber a unção de tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de te envolver até meu padecer de todo fenecer


Nota1: Pesquisa histórica, pesquisa musical e texto por Nando Cury. 

Nota 2: Episódio dedicado ao meu pai Waldomiro, que faria 100 anos neste mês de março de 2024. “Rosa” era uma de suas canções favoritas na voz de Orlando Silva, seu cantor predileto. 


 

Compartilhe:

⇓ Para seu comentário, pergunta ou mensagem.
Sua mensagem

Gostaria de receber aviso de novidades no seu email?
SIM NÃO