STEELY DAN: UMA BIOGRAFIA MUSICAL
Nasce o Steely Dan
Donald Fagen e Walter Becker se conheceram nos tempos de ginásio no Bard College de Nova York. O encontro e a longa convivência foram certamente marcados pela afinidade. Dois jovens novaiorquinos, tidos como nerds, que tinham o gosto pela literatura e o conhecimento musical. Inspiraram-se em estrelas do jazz como John Coltrane, Duke Ellington e Charlie Parker. Logo após se formarem no colégio, resolveram assumir a música, participando de bandas, tocando Rolling Stones, Mob Grape, Willie Dixon. Em 1971, criaram músicas para um filme da Broadway. Uma delas foi gravada por Barbra Streisand.
Então resolveram montar uma banda. A escolha de Steely Dan para o nome foi baseada num objeto sexual citado no livro “Nuked Lunch” (Refeição nua) de Willian S. Burroughs.
O Steely Dan ganhou popularidade nos anos 70, quando fez sete álbuns autorais em estilo marcante, envolvendo complexas estruturas e harmonias com influências do jazz, funk, R&B, blues, rock e pop. E trazendo como diretrizes o perfeccionismo, até exagerado, o talento e a preferência por trabalhos experimentais de estúdio, apoiados pelo produtor Gary Katz e o engenheiro de som Roger Nichols que recebeu 6 Grammy Awards pela sua atuação nas obras da banda. As letras de suas composições são repletas de humor ácido e ironia, envolvendo personagens com comportamentos obsessivos, desiludidos e fracassados.
Primeiro álbum: Can’t buy a thrill, 1973
Em sua primeira formação para gravação do álbum “Can’t buy a thrill”, lançado em 1972, o Steely Dan além de Donald Fegan ao piano, teclados e efeitos eletrônicos e Walter Becker no baixo, conta com um time de primeira linha. Tem David Palmer como vocalista principal, Elliott Randall, Denny Dias e Jeff “Skunk” Baxter nas guitarras elétricas e acústicas, Jim Hodder na bateria e vocal. E ainda traz a participação de um grupo seleto de músicos do Jazz nos metais, mais as cantoras da soul music Cilyd King, Venetta Fields e Shiley Mathews. “Can’t buy a thrill” atingiu a décima sétima posição da Bilboard 200 Americana, ganhou disco de platina e ocupa a posição 238 na lista de 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos da revista Rolling Stone. Todas as músicas são de autoria de Fagen e Becker. A fantástica canção “Do it again”, um rock carregado de suingue latino, é a grande alavanca do sucesso do disco. Outras incríveis são: “Midnight cruiser”, “Only a fool would say that” e “Reelin’ in the years” que traz um surpreendente vocal.
Segundo álbum: Countdown To Ecstasy, 1973
No álbum “Countdown to ecstasy”, de 1973, David Palmer grava algumas faixas, mas deixa a banda e Donald Fegan passa a assumir os vocais do Steely Dan.
Apesar da sofisticação nos arranjos e da presença de músicos como Steve Howe e Rick Derringer nas guitarras, o álbum que foi composto na estrada pela dupla Fagen e Becker, não gera hits. Mesmo assim atinge a trigésima quinta posição da Bilboard 200 Americana. Apresenta como canções mais envolventes: “The Boston rag”, que traz vocais a la C, S & N, Crosby, Stills and Nash, “Show biz kids” com um vibrante riff vocal e o balanço de “Your gold teeth”.
Terceiro álbum: Pretzel Logic, 1974
Abre o terceiro disco “Pretzel Logic” a inesquecível “Rikki Don`t Loose That Number”, de Fagen e Becker, que é a mais tocada e maior sucesso mundial do Steely Dan. O álbum chegou na oitava posição da Bilboard Americana e ganhou platina nos EUA. O trackylist é bem diversificado, com canções folk, jazz e blue. Traz homenagens a Charlie Park, em “Parker’s Band” e a Duke Elington, com “East St. Louis Toodle-oo”. E apresenta músicas surpreendentes como “Any major dude will tell you” e a que batiza o disco “Pretzel Logic”, que também que inclui vocais a la C, S & N. Neste ano, Fagen e Becker tomam a decisão de não fazer mais turnês, concentrando-se em demoradas sessões de estúdio. Isso gerou a saída de músicos como o guitarrista Jeff Baxter e do baterista Jim Hooder. E a inclusão do baterista Jeff Porcaro do Toto, o baixista Chuck Rainey e o guitarrista Larry Carlton nas gravações. Um concerto em 5 de julho de 1974, no Santa Monica Civic Auditorium, marcou a útima apresentação da banda nesta época.
Quarto álbum: Katy Lied, 1975
“Katy Lied” é mais um álbum autoral, sem hits. Percebe-se poucas mudanças nos arranjos, como no timbre das guitarras e o piano que ganha mais destaque. O sucesso da banda continua, conseguindo a décima posição na Billboard Americana e mais uma platina nos EUA. Os marcantes vocais aparecem nas vibrantes “Bad sneakers” e “Chain lightning”. Outras envolventes são “Your gold teeth II” e “Any world that I’m welcome to”, que tem a mesma levada rítimica da top “Rikki”.
Quinto álbum: The Royal Scam, 1976
A partir de 1976 Walter Becker e Donald Fagen passam a assinar como um duo. E “The Royal Scam” pode ser considerado o disco mais guitarristico que realizaram. Conta com Denny Dias, Elliott Randall, Dean Parks, Larry Carlton, além do próprio Walter Becker em bases e solos incríveis de guitarra. Como curiosidade, a capa de “The Royal Scam” havia sido idealizada para um disco nunca lançado de Van Morrison. E acabou sendo reaproveitada pelo Steely Dan neste projeto gráfico e musical, que aborda as angústias de imigrantes latinos que chegavam à Big Apple buscando uma vida melhor. As canções mais vibrantes são: “Don’t take me alive”, “Sign in stranger” e “Everything you did”.
Sexto álbum: Aja, 1977
“Aja”, sétimo álbum da dupla Fagen e Becker, lançado em 1977, é um jeito diferente de se falar Asia em inglês. Uma forma especial que Donald Fagen encontrou para reverenciar a cultura japonesa. Outro elemento oriental está na capa, é a foto da modelo japonesa Sayoko Yamaguchi. Depois de nove meses de trabalho, envolvendo mais de 40 músicos, incluindo o baterista Bernard Purdie, os backing vocals de Michael Mc Donald, Timothy Schimit e Vanetta Fields e os solos do saxofonista Wayne Shorter, saiu “Aja” com sete músicas num total de 40 minutos, que valem cada segundo musical. Vendeu mais de 2 milhões de cópias só nos Estados Unidos, venceu o Grammy de Melhor Engenharia de Som de Álbum Não-Clássico em 1978 e ocupa a ocupa a 63ª posição na lista de 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos da revista Rolling Stone. Os destaques vão para “Peg”, que virou mais um hit da banda, a música título “Aja”, “Deacon blues”, “Home at last” que esconde uma levada raggae e “Josie” que inspirou cantores brasileiros.
Sétimo álbum: Gaucho, 1980.
O álbum “Gaucho” foi elaborado em meio a fatos trágicos, como a morte da namorada de Becker por overdose, depois o atropelamento de Becker por um táxi, quebrando uma de suas pernas e o forçando a usar muletas por um bom período. Além disso, ocorreu a ação acidental de um engenheiro de som que apagou um trecho de uma música que estava pronta e que Fagen e Becker sentiram que não conseguiram reconstruir, abandonando-a. Foi resgatada mais tarde e chamada de “Second Arrangement”.
Assim a dupla ficou mais de um ano envolvida na gravação do disco, comunicando-se por telefone enquanto Becker esteve hospitalizado. “Gaucho” é um álbum requintado que teve o uso de uma bateria eletrônica nominada Wendel, que custou 150 mil dólares e foi especialmente fabricada pelo engenheiro Roger Nichols a pedido de Fagen e Becker. Lançado em 1980, “Gaucho” vendeu mais de um milhão de cópias e ganhou platina nos EUA. O primeiro single com o hit “Hey Nineteen”, alcançou a posição 10 na Billboard Hot 100. Incríveis também são as faixas: “Babylon sisters”, “Time out of mind” e “Gaucho”.
Oitavo álbum: Two against nature, 2000
Em 1981 a parceria é rompida. Fagen parte para carreira solo e lança o excelente “The Nightfly” em 1982. Uma década depois, em 1993, o próprio Becker produz “Kamakiriad”, o segundo álbum solo de Fagen. Com esta reaproximação e atendendo a pedidos, Fagen e Becker voltaram a se reunir e a fazer shows nos EUA, lançando o disco “Alive in America” em 1994. Então, em 1997 Fagen e Becker entram novamente em estúdio e começam a preparar um novo álbum na mesma linha de excelência de seus anteriores. E contando com novo parceiro: um computador que lhes permitiu produções digitais. “Two against nature” vendeu mais de 1 milhão de cópias e arrebatou quatro gramofones no Grammy, incluindo Álbum do Ano. Os destaques ficam para as envolventes: “Janie Runaway”, Älmost gothic” e “Jackie of speed”.
Becker (esq.) e Fagen recebendo os Gramys.
Nono álbum: Everything Must Go, 2003
Em 2003 ocorre o lançamento do CD “Everything must go” com o último trabalho de estúdio de Fagen e Becker. O projeto contou com o apoio de mais de vinte músicos. Fagen fez os solos vocais, tocou órgão, sintetizador, piano e percussão. Becker fez o baixo, solo de guitarra, solo vocal em ‘Slang of ages’ e tocou percussão. O álbum atingiu a nona posição da Bilboard 200 Americana. São surpreendentes as canções: “The last mall”, “Slang of ages”, “Pixeleen”, “Blues beach” e a música título ëverything must go”.
Até 2017, ano do falecimento de Becker, com 67 anos, a banda fez turnês e participou de festivais e concertos de outros músicos. Donald Fegan seguiu sua carreira solo realizando shows apresentando as músicas de seus álbuns e do Steely Dan.
Nota 1: Pesquisa musical e histórica, texto por: Nando Cury
Nota 2: Fontes principais consultadas: whiplash.net; spirit-of-rock.com; monkeybuzz; rockdigital.com; Altamont; obarrete.com; www.steelydan.com
Nota 3: Todas as canções citadas nesta biografia musical são de autoria de Donald Fegan e Walter Becker
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