Trigêmeas

UM PASSATEMPO ASSIM  

Aviso na porta da lojaAo soar do meio dia, endossado pelos sinos da igreja, Seu Assad passa, sem pressa, a chave na porta transparente da loja. E expressa o aviso na vitrine: “Volto assim que possível”. Os clientes mais assíduos já tem assimilado esse recado: dois tempos de sessenta minutos, que asseguram o almoço caseiro e uma sesta bem sossegada para o comerciante. A loja é uma pequena livraria que associa livros a materiais impressos e de papelaria. No fundo possui doceria com café espresso e um setor de passamanarias, produtos tracionais de família. Impossível não se impressionar com a lojinha da esquina do Largo da Matriz de Passa Quatro.  

Nesses mesmos instantes, as gêmeas Sissi, Sassá e Sussu passeiam com a possante pick-up cabine dupla do pai, o farmacêutico Néssio. Passam em frente à loja do Seu Assad, contornam o largo da Matriz e atravessam a passagem sob a linha do trem. A empresa ferroviária local oferece belos e acessíveis passeios pela Serra da Mantiqueira.  

O maquinista Mossoró realiza manobras nas garagens dos trens. E, para “massagear” o ego, emite um forte apito que assusta Alessandro, o assoberbado chefe da estação.  

O carro das irmãs assegura sucessivas voltas pelas ruas da cidade, em busca de assuntos mais interessantes. Como, por exemplo, ultrapassar os olhares de Restaurante calçadãoasseados rapazes que, saem de seus empregos, naquele essencial momento. E vão, a passos largos, em busca de um assento no assediado Restaurante do Assis. Situado na Rua da Passividade com a Praça do Bom Sucesso, o restaurante tem cadeiras e mesas posicionadas sobre a calçada, possibilitando aos frequentadores uma visão privilegiada dos passageiros de carros que acessam a rua do estabelecimento. 

Empossando seu lustroso mocassim, Assis gerencia a pressão dos clientes e cuida dos ativos e passivos. Na retaguarda, a chef e esposa Cléssia assume a qualidade dos seus respeitados assados e massas. O assistente de cozinha é o mesmo garçom Jéssinho que assinala os pedidos dos fregueses, ossos do ofício para ajudar a manter o necessário equilíbrio das contas da casa.  

Sissi veste chapéu carnavalesco de passista e assina o comando do veículo. Sassá, ao lado da motorista, toca violão e ressoa uma conhecida canção de bossa nova. Apossando-se do banco traseiro, Sussu exibe sua pintura premiada, ressaltada por um passpartout dourado. Na compressão passional da espera pós-almoço, Cassiano, filho do construtor Mássimo, pensa em “lançar” a passadeira vermelha pra Sissi. O médico recém formado Lisseu, sobrinho do Seu Assad, Trigêmeasestá assolado pelo impasse de “assobiar” para Sassá ou para Sussu. Mas, “sussurram os passarinhos” que Sassá só vai sossegar nos braços do ansioso Tássito, um dos herdeiros sucessores da fazenda turística. 

Ao se aproximarem dos anseios da “passeata” motorizada, as gêmeas ressaltam juntas a mensagem bem assessorada por tia Níssínia: 

 -“Meninas não se esqueçam que o passatempo é lúdico, mas também é missionário”.  

E assertivamente, elas partem para “assinar” suas premissas pessoais nas passarelas assimétricas da paixão. Bem ali, em frente ao Restaurante do Assis.  

NOTA: criação por Nando Cury

Imagens:
Cabeçalho: Trigêmeas / Equipe de redação
Trigêmeas: Equipe de redação
Loja: Ellie Burgin / Pexels
Restaurante: Darya Sannikova / Pexels

OUÇA O PODCAST DESTE TEXTO COM AS MÚSICAS. CLIQUE AQUI.

Compartilhe:

⇓ Para seu comentário, pergunta ou mensagem.
Sua mensagem

Gostaria de receber aviso de novidades no seu email?
SIM NÃO