A FRASE MNEMÔNICA
Estavam os dois agachados, limpando o chão da cozinha dos estilhaços de um pote de açúcar. De repente, no mesmo e exato momento, viraram um pro outro. Foi uma cabeçada monumental. Ele caiu desmaiado de um lado, a esposa desmaiada do outro. Ela acordou primeiro e foi socorrer o marido.
– Está tudo bem?, perguntou a ele
– Par….rece… que.. es … tou
– Então me diga qual é o seu nome?
– O… di …lon… Odilon Soares
– Qual é o primeiro nome da sua mãe? (para comprovar)
– Odete
– Ufa, pensei que você tinha tido um treco, Odilon.
– Já estou bem. Tudo normal, reforçou o marido, passando a mão no calombo que ficou na testa.
Apesar do calombo, parecia que tudo estava mesmo normal com Odilon, Até ele precisar pagar uma conta pelo app do Banco Irreal. Não lembrou da senha. Odilon era daqueles caras extremamente desconfiados. Jamais falava, nem baixinho, coisa alguma que fosse pessoal. Imagine então algo secreto, como uma senha. Para cada senha da internet, Facebook, Netflix, Enel, cartões, Odilon associava uma frase especial com um personagem diferente. E guardava tudo na memória. Tentou algumas associações e mais outras e zero de recordação. Ligou pra Marcélia, a gerente do banco.
– Oi Marcélia é o Odilon
– Olhe, não fique chateado, mas me diga: qual Odilon?
– Odilon Soares, seu cliente aí da agência, não reconhece minha voz?
– Pelo telefone é mais difícil. Pode me informar: qual é a data do seu nascimento?
– 7 de setembro de 1962
– E qual é o sobrenome de solteira da sua mãe?
– É Albuquerque você sabe, está tudo aí no meu cadastro.
– Entenda, é questão de segurança. Nestes tempos temos recebido muita ligação de bandido de presídio se passando por cliente. Precisamos checar.
– Eu sou um antigo cliente real, será? Dessa agência um tanto…. Pô, sofri um acidente caseiro e esqueci minha senha.
– Calma, não se estresse, Odilon. São apenas mais duas perguntas
– Isso é brincadeira, que falta de respeito, Marcélia. Como fica o famoso slogan do Banco Irreal “sempre preocupado com você?”
– Estamos preocupados sim, com a sua segurança. Já imaginou se um bandido entra na sua conta. Vamos Odilon, me ajude: qual é o número de títulos do time do porteiro do hotel que você se hospedou em Lisboa?
– Mas, que loucura. Isso me parece uma conhecida frase mnemônica.
– Odilon, a resposta é condicional para você me responder a outra pergunta.
– Pode me adiantar a outra pergunta, pelo menos?
– Qual é a casa da lua no signo ascendente da madrinha mais nova do casamento de seu cunhado Pedro?
– Que absurdo! Esta, também, é outra frase mnemônica muito familiar. Ai, ai, minha cabeça está doendo. Não consigo associar essas frases a nada.
– Então, não tem jeito, Odilon. Você vai ter que falar com o nosso gerente geral, lá pelo chat do site do banco. E antes éobrigatório se inscrever no Setor de Atendimento Mnemônico. Vou avisando: tem fila de espera.
– Espera aí, Marcélia, qual seria a terceira pergunta que você me faria na sequência?
– Quantas vezes, na primeira garfada, sua mãe mastigou os pedaços de pernil no penúltimo Reveillon passado em Campos do Jordão?
– Uuuufa, obrigado Marcélia, lembrei da senha.
Por: Nando Cury
Cabeçalho Mulher ao telefone / Freepik
Capa Executiva no escritório / Freepik
Mulher preocupada / Freepik
Homem pensando / Freepik
Mulher ao telefone / Freepik
Homem com relogio / Freepik
OUÇA O PODCAST DESTE TEXTO COM AS MÚSICAS. CLIQUE AQUI.
Compartilhe: