Pai e filha ao violão

CANÇÕES FEITAS PROS FILHOS

São canções que marcam épocas em relação aos filhos. Falam de tempos de espera. A ansiedade da espera, da surpresa daquele ou daquela que foi gestado (a), aguardado (a) e vai chegar. São canções de acolhimento, de homenagem aos filhos.

Pai e filho ao pianoDestaco algumas obras de mestres deste gênero, se é que podemos chamar assim esse tipo de canção. Começando por Caetano Veloso. Caetano esperava a chegada de seu primeiro filho Moreno, do casamento com Dedé. Mas, eles não fizeram ultrassom para saber se viria menina ou menino. Nem era moda na época. Por isso o tema de uma música especial, presente no disco “Araçá Azul”, de 1972, levanta a dúvida e aponta para duas possibilidades: “Julia/ Moreno”. Os versos melódicos vão se formando tal e qual uma poesia concreta. “Uma talvez Júlia. Uma talvez Júlia não … Uma talvez Júlia não tem nada a ver com isso. Uma Júlia. Um quiçá Moreno. Um quiçá Moreno nem … Um quiçá Moreno nem vai querer saber qual era. Um Moreno.”

Mãe, filho e filha tocando guitarraEm outro período, em 1991, em seu disco “Circuladô”, agora casado com Paula Lavigne, Caetano compõe “Boas-Vindas”, gravada logo depois do nascimento de seu terceiro filho Zeca. E num jeito carinhoso e ao mesmo tempo realista de bem receber e apresentar a vida, alerta o filho para que fique atento às coisas boas e difíceis que ela oferece. “Sua mãe e eu. Seu irmão e eu. E a mãe do seu irmão. Minha mãe e eu. Meus irmãos e eu. E os pais da sua mãe. E a irmã da sua mãe. Lhe damos as boas-vindas. Boas-vindas, boas-vindas. Venha conhecer a vida. Eu digo que ela é gostosa. Tem o sol e tem a lua. Tem o medo e tem a rosa “.

Clareana, lançada em 1976 e sucesso no Festival de Música Popular Brasileira da TV Globo de 1980, foi a música que alavancou a carreira da cantora Joyce Moreno. Composta em parceria com Maurício Maestro, fala do carinho da mãe pelas filhas Clara e Ana, de seu primeiro relacionamento com o músico Nelson Angelo, do Clube da Esquina. E também revela a intuição de Joyce de ter mais uma filha, Mariana, que chegaria logo depois, fruto de seu casamento atual com o baterista Tutty Moreno. Outro fato interessante é a participação de Clara e Ana no coro final da gravação. “Um coração. De mel de melão. De sim e de não. É feito um bichinho. No Sol de manhã. Novelo de lã. No ventre da mãe. Bate o coração. De Clara, Ana. E quem mais chegar. Água, terra, fogo e ar“.

Pai e filha ao violãoNeste grupo de canções aparecem também as que falam de tempos de convivência entre pais e filhos na infância e adolescência. Momentos para dar dicas, chances para os pais se integrarem ao mundo em formação do herdeiro (a), abraçar seus personagens e mistérios. O pai coruja Nando Reis lidera no número de composições. Em “O Mundo é bão, Sebastião”, de 2001, o cantor reforça a frase utilizada pela mulher Vânia ao atender os anseios de Sebastião, o terceiro filho, um questionador nato. “Como escrever certo o seu nome. Como comer se der fome. Como sonhar pra quem dorme. E deixa o cansaço acalmar lá em casa. Como soltar o mundo inteiro com asas. Tiranossauro Rex Tião. Dentro dos seus olhos virão. Monstros imaginários ou não… O mundo é bão, Sebastião”. Mais tarde, em 2006, com “Espatódea”, homenageia a filha ruiva Zoé, a mais parecida com ele, segundo o próprio Nando. “Minha cor. Minha flor. Minha cara. Quarta estrela. Letras, três. Uma estrada. Não sei se o mundo é bão. Mas ele ficou melhor. Quando você chegou”. A filha Sophia também recebeu, em 2009, uma canção do pai, chamada “Só pra So”: “O seu sorriso é um horizonte. Seus olhos criam um universo. O charme do seu ombro esconde. A surpresa e o teu mistério. Sophia. Você é a própria novidade. Que atualiza o que te cerca. O sangue que passeia na avenida. Ida e vinda, veia e artéria.”

Pai e filha ao violãoCompleto esta seleção de músicas dedicadas aos filhos com uma canção de Paula Toller, criada pro seu filho Gabriel. Lançada em 2000, inclui perguntas da famosa fase dos por quês? “Oito Anos” carrega uma melodia mais simples, bem associada à linguagem infantil dos seus versos. Talvez sejam essas as razões de ser incluída por Adriana Calcanhoto na primeira versão de Adriana Partinpim, virando um dos destaques nos shows desse projeto. “Por que os ossos doem. Enquanto a gente dorme? Por que os dentes caem? Por onde os filhos saem? Por que os dedos murcham. Quando estou no banho? Por que as ruas enchem. Quando está chovendo? Quanto é mil trilhões vezes infinito?

Imagens:
Cabeçalho Pai e filha / Freepik
Capa Pai e filho ao piano /Freepik
Foto2/ Freepik
Foto3/ Freepik
OUÇA O PODCAST DESTE TEXTO COM AS MÚSICAS. CLIQUE AQUI.

Compartilhe:

⇓ Para seu comentário, pergunta ou mensagem.
Sua mensagem

Gostaria de receber aviso de novidades no seu email?
SIM NÃO