Coração azul
CORAÇÃO: UM ÓRGÃO BIPOLAR E MUSICAL

Há coração! Órgão anatomicamente cônico, principal do sistema cardiovascular. Contrai e relaxa. Junto com os pulmões é responsável por tratar e bombear o sangue para todo o corpo humano. Ele pode bater profundamente ou mais lentamente. Dependemos extremamente de sua cadência, ritmo e compasso para uma vida saudável. E fisicamente bem estruturada.

Ah coração! Órgão que pode bater descompassadamente, ou mais apressadamente, conforme chegam até ele as nossas emoções. Serve de caminho para acolher e enviar as tramas dopamínicas, que não tem registros nos ecocardiogramas, mas nas paixonitegramas. E podem ser percebidas pela mudança no humor, o rubor no rosto, o aumento das pupilas, suor nas mãos…

De atração corre para paixão. E daí pra frente pode virar Aí Coração! ou Ai Coração! Tudo depende da decorrente e solvente química que chega nas artérias do pensamento, misturando energia, sintonia, simpatia, empatia e os temperos extra que contaminam os terráqueos envolvidos.

Nos ritmos do coração pros embalos das obras musicais, que tratam desse tema bipolar tão envolvente, vibra um representativo leque de canções de diferentes veias poéticas. Esta é apenas uma amostra cardiológica musical, válida para todos os tipos de sangue, batimentos e pressões arteriais.

Pintura de coraçãoUm compositor que quase se formou médico, quiçá pode apresentar um bom argumento ao tratar os sintomas de uma dor de coração. É o poeta Noel Rosa, que nos anos 30, criou algumas canções, citando ou contestando o nosso órgão vital. “Coração, Samba Anatômico” é a mais direta. “Coração. Grande órgão propulsor. Transformador do sangue venoso em arterial. Coração não és sentimental. Mas, entretanto dizem. Que és o cofre da paixão.” Ou em outro trecho “Coração de sambista brasileiro. Quando bate no pulmão. Traz a batida do pandeiro. Eu afirmo, sem nenhuma pretensão. Que a paixão faz dor no crânio. Mas não ataca o coração”. Inesquecível é “Tic Tac do meu coração”, marchinha de Alcir Pires e Valfrido Silva que se tornou um dos hits da consagrada Carmen Miranda, em 1935 E foi regravada por vários cantores, como Ney Matogrosso e Nara Leão. Misturando as funções biológicas com as sensações emocionais, começa de modo onomatopaico. “… O tic-tic, o tic-tac do meu coração. Marca o compasso do meu grande amor. Na alegria bate muito forte E na tristeza bate fraco porque sente dor.”

Na mesma frequência entra a clássica “Coração vagabundo” de Caetano Veloso, presente no disco Domingo, que lançou Caetano e Gal Costa, em 1967.”Meu coração não se cansa. De ter esperança. De um dia ser tudo o que quer.”

Especialista em retratar histórias de coração machucado, Paulinho da Viola nos presenteia com duas lindas canções. Uma é “Coração Imprudente”, de 1972, que leva a parceria de Capinan.” O que que pode fazer. Um coração machucado. Senão cair no chorinho. Bater devagarinho pra não ser notado. E depois de ter chorado. Retirar de mansinho. De todo amor o espinho. Profundamente deixado.” A outra é “Coração Leviano” de 1978, que ganhou uma linda versão de Djavan, em 1996 “Trama em segredo teus planos. Parte sem dizer adeus. Nem lembra dos meus desenganos. Fere quem tudo perdeu. Ah coração leviano não sabe o que fez do meu”.

Quando algo acontece de diferente lá dentro do coração, pulsam os versos do baião “Coração Bobo”, lançado em 1980, pelo genial Alceu Valença, uma de suas mais cantadas composições.” Meu coração tá batendo. Como quem diz: Não tem jeito. Zabumba bumba esquisito. Batendo dentro do peito… Coração bobo, coração bola. Coração balão, coração São João. A gente se ilude dizendo: Já não há mais coração.” E fechando esta pequena coleta cardio-musical, incluo um xote composto por Marinês Maciel Ribeiro, Antonio Barros e Cecéu, que chama a atenção para o devido aconchego ao coração feminino e direitos da mulher. Ninguém melhor para defender essa causa que a voz linda e forte de Elba Ramalho. “Bate, bate, bate, coração. Dentro desse velho peito. Você já tá acostumado. A ser maltratado, a não ter direitos. Bate, bate, bate, coração.

Não ligue, deixe quem quiser falar, rá! Porque o que se leva dessa vida, coração É o amor que a gente tem pra dar. Oi, tum, tum, bate coração. Oi, tum, coração pode bater. Oi, tum, tum, tum, bate, coração. Que eu morro de amor com muito prazer.”

AVISO: SE APÓS A ADMINISTRAÇÃO DESTAS DRÁGEAS DE AUTORES PERSISTIREM OS SINTOMAS DE TAQUICARDIA E OUTROS, PROCURE IMEDIATAMENTE SEU CARDIOLOGISTA.

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Fotos
Capa: CDD20 / Pixabay
Ninel_S / Pixabay


 

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