Amigos cantando
CANTAR A VIDA, O AMOR E TUDO MAIS

Quem canta seus males espanta. Cantar é terapêutico. É o que comprovam estudos científicos sobre os efeitos provocados pelo canto. Ouvimos cantos pelos nossos pais, desde quando estamos sendo gerados. E quão importantes são as cantigas de ninar. Os cânticos que complementam orações em cerimônias religiosas. Os hinos que elevam o ânimo dos jogadores e jogadoras nas disputas esportivas. Os cantos que que revelam as coisas da vida e os que lembram as emoções geradas pelo amor.

Através de uma selecionada amostra de canções sobre o tema, começamos por aquelas que destacam o dom de cantar e a profissão de cantor, cantora, cantador ou cantadora.

“O” Cantador” é uma canção de Dori Caymmi e Nelson Motta, Com ela, Elis Regina conquistou o prêmio de melhor intérprete no 3º Festival de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Record de São Paulo, em 1967. “Amanhece, preciso ir. Meu caminho é sem volta e sem ninguém. Eu vou pra onde a estrada levar. Cantador, só sei cantar. Eu canto a dor. Canto a vida e a morte, canto o amor”.

Na canção “Nos Bailes da Vida”, de 2014, Milton Nascimento e Fernando Brant contam detalhes das dificuldades do cantor para viajar e chegar a algum lugar e desempenhar a sua profissão. “Foi nos bailes da vida ou num bar. Em troca de pão.

Que muita gente boa pôs o pé na profissão. De tocar um instrumento e de cantar. Não importando se quem pagou quis ouvir. Foi assim. Cantar era buscar o caminho. Que vai dar no sol. Tenho comigo as lembranças do que eu era. Para cantar nada era longe tudo tão bom. Até a estrada de terra na boleia de caminhão”.

Moça tocando violãoEm “Eterno Cantador”, os autores Alemão e Elzo Augusto apontam o personagem como aquele que é destinado a trazer a felicidade aos corações dos que o ouvem.” “Sanfona, chapéu e gibão. É o retrato desse meu sertão. De sol a sol. Por todos cantos e lugares. Vou perseguindo este destino meu. Sou cantador. Que faz da dor os seus pezares. Uma lição de amor que aprendeu. Quem viu a vida. Derramar amor. Não vai deixar. De ser um cantador”.

Cantadores e as cantadoras levam seus cantos para ouvintes de vários lugares e cidades. Subindo em diferentes palcos, montados nas ruas, praças, circos e teatros. Em “Palco”, de seu álbum Luar de 1981, Gilberto Gil revela a hora de começar mais um show. ”Subo nesse palco. Minha alma cheira a talco. Como bumbum de bebê. Minha aura clara. Só quem é clarividente pode ver. Trago aminha banda. Só quem sabe onde é Luanda. Saberá lhe dar valor”.

Do mesmo modo, Chico Buarque expõe a vida cigana do cantador, em sua canção “Mambembe”, presente no álbum Quando o carnaval chegar de 1972. “No palco, na praça, no circo. Num banco de jardim. Correndo no escuro, pichado no muro. Você vai saber de mim. Mambembe, cigano. Debaixo da ponte, cantando. Por baixo da terra, cantando. Na boca do povo, cantando”.

Mas, será que existe alguma energia oculta que leva um cantor a cantar? Caetano explica isso em “Força Estranha”, canção cantada por Gal Costa, no seu disco Gal Tropical, de 1979.” Por isso uma força me leva a cantar. Por isso essa força estranha no ar. Por isso é que eu canto, não posso parar. Por isso essa voz tamanha”.

E, mesmo que pareçam devaneios, jamais se pode duvidar das revelações do cantador. É o que defendem Sá e Guarabyra, numa canção chamada “Pássaro” do LP Quatro de 1979. “Um tocador de violão. Não pode cantar prosseguir. Quando lhe acusam de estar mentindo. Quer virar pássaro e rolar no ar no ar. Quer virar pássaro e sumir”.

Uma musa, com certeza, é um grande motivo pro cantor soltar sua voz. Assim acontece na canção “Casa Pré-fabricada” de Marcelo Camelo, com Los Hermanos.” Canto que é de canto que eu vou chegar. Canto e toco um tanto que é pra te encantar. Canto para mim qualquer coisa assim sobre você. Que explique a minha paz. Tristeza nunca mais”.

Cantar pode ainda servir para espantar alguma dor ou lembrança, contida e marcada no coração. Como propõe Godofredo Guedes na canção “Cantar”, incluída por Beto Guedes, seu filho, no álbum “Amor de índio”, de 1978. “Cantar quase sempre nos faz recordar. Sem querer. Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer. Cantando aos acordes do meu violão. É que mando depressa ir-se embora saudade que mora no meu coração”.

Enfim, como diz Caetano Veloso, cantadores estão sempre espalhando suas vozes. Há sempre “Alguém cantando” em algum lugar.” Alguém cantando longe daqui Alguém cantando ao longe, longe. Alguém cantando muito. Alguém cantando bem
Alguém cantando é bom de se ouvir”.

NOTA. Pesquisa musical e texto: Nando Cury

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Fotos:
Andrea Piacquadio/Pexels

Moça ao violão/Freepik 


 

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