Carlos Lyra

CARLOS LYRA: UMA BIOGRAFIA MUSICAL

Carlos Lyra nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de maio de 1933. Ótimo violonista, cantor, compositor diferenciado, criador de lindas melodias, participa ativamente para propagar o novo estilo musical que emerge no começo dos anos 60: a Bossa Nova.  Suas letras e de parceiros famosos levam de carona a linguagem lírica romântica herdada dos anos 50, com um toque a mais de sensualidade. Histórias cotidianas cheias de sentimentos, falam de amores platônicos, paixões secretas, amores e relacionamentos. Aos poucos, ganham dimensões existencialistas, com a mudança dos costumes.  

Carlos LyraSeu primeiro álbum, com selo Philips de 1959 e apesar do nome “Bossa Nova”, traz uma mistura das suas primeiras bossas, como “Chora tua tristeza”, “Ciúme” e “Gosto de você” (Carlos Lyra e Carlos Fernando Fortes), com outros ritmos musicais, feito os sambas canção “Barquinho de Papel”, “Só mesmo por amor” e “Quando chegares”. O destaque é o mambo “Maria Ninguém”, que era a música preferida de Jaqueline Kennedy. “Maria ninguém. É Maria e é Maria meu bem. Se eu não sou João de nada. Maria que é minha é Maria ninguém.” 

Da fértil parceria com Ronaldo Bôscoli, as canções “Saudade fez um samba e “Lobo bobo” estão presentes no disco “Chega de Saudade” de João Gilberto de 1959. Anos depois, “Lobo bobo” torna-se um dos maiores sucessos de Wilson Simonal, no seu álbum “A nova dimensão do samba” de 1964, pela Universal. “Era uma vez um Lobo Mau. Que resolveu jantar alguém. Estava sem vintém. Mas arriscou. E logo se estrepou. Um chapeuzinho de maiô. Ouviu buzina e não parou. Mas Lobo Mau insiste. E faz cara de triste. “
Carlos LyraNo segundo LP, de 1961, o mais inspirado de todos, entram suas parcerias com Vinicius de Moraes. As canções “Primavera” e “Minha namorada”, além de fazerem enorme sucesso, recebem o selo de campeãs de serenatas. Se você quer ser minha namorada. Ah, que linda namorada. Você poderia ser. Se quiser ser somente minha. Exatamente essa coisinha, essa coisa toda minha. Que ninguém mais pode ser.” (Minha namorada). 

Outras belas canções, como “Você e eu” e “Coisa mais linda” ganham interpretações brilhantes de Caetano Veloso, em seu LP “Uns” de 1983, pela Universal e de Gal Costa, com acompanhamento de Paulo Belinatti ao violão, no álbum Live At The Blue Note, de 2006.Coisa mais bonita é você, assim, justinho você. Eu juro, eu não sei por que você. Você é mais bonita que a flor, quem dera, a primavera da flor. Tivesse todo esse aroma de beleza, que é o amor. Perfumando a natureza, numa forma de mulher.” 

Carlos LyraEm 1963, Lyra lança o LP “Depois do Carnaval”, que destaca as canções “Aruanda”, numa parceria com Geraldo Vandré.” E “Se é tarde me perdoa”, de Lyra e Ronaldo Bôscoli. “Se é tarde me perdoa. Mas eu não sabia que você sabia. Que a vida é tão boa. Se é tarde, me perdoa. Eu cheguei mentindo. E eu cheguei partindo. Eu cheguei à-toa” 

Mas é a parceria com Vinicius que reflete sua fase de maior criatividade. Para compor com Vinicius, Lyra vai até a casa do poeta, levando melodias. Ou entrega fitas para ele ouvir e depois pensar num tema. Certa vez, Lyra deixa várias melodias para serem letradas por Vinicius. E, ao cobrar retorno, dele recebe a sugestão de montarem um musical, com enredo e personagens já criados por Vinicius. Assim surge “Pobre Menina Rica”, que vira LP lançado pela CBS em 1965. Entre os atores do espetáculo está o comediante paulista Ary Toledo, que pede a Lyra para gravar “Pau de Arara” (O comedor de gillettes). Assim a música que Toledo canta no palco, acaba virando sucesso nacional. “Eu um dia cansado que tava da fome que eu tinha eu não tinha nada que fome que eu tinha, que seca danada no meu Ceará. Eu peguei e juntei um restinho de coisas que eu tinha: duas calças velhas e uma violinha e num pau de arara toquei para cá.” 

Carlos Lyra e Vinicius de MoraesDo LP “Herói do Medo”, da gravadora Continental de 1975, o destaque vai para a composição “Cara bonita”, que exibe uma versão especial com Nara Leão e Lyra, no álbum “Os meus amigos são um barato” de Nara, de 1978.” Eu não me canso de tanto te olhar. Onde você foi arranjar essa cara. Tão bonita, tão bonita? Eu fico sem assunto pra falar. E me pergunto se haverá outra cara. Tão bonita nesse mundo?
Em 2005, uma nova parceria. Agora Carlos Lyra com Joyce Moreno. E nasce a melodiosa e saudosista canção “E era Copacabana”, que recebe arranjos de Dori Caymmi, vozes de Joyce e Dori, na versão contida no CD Rio-Bahia de Joyce & Dori Caymmi, de 2006. “Noites febris. Tempos gentis. Eu já fui tão feliz. Mais do que eu quis. Mais que eu pude querer. E era Copacabana”. 

Em 2010, Carlos Lyra junta-se a Aldir Blanc na composição da trilha com canções inéditas para a peça “Era no Tempo do Rei”.  

Carlos LyraEm janeiro de 2023 começou a ser gravado pelo selo SESC o álbum “Afeto” em homenagem aos seus 90 anos de Carlos Lyra. O lançamento foi em dezembro de 2023, no mesmo mês de falecimento do cantor. A obra traz 14 composições de Carlos Lyra cantadas por Lyra e 14 intérpretes convidados. Entre eles estão Caetano Veloso, Djavan, Edu Lobo, Ivan Lins, Joyce Moreno, Leila Pinheiro, Lulu Santos, Mônica Salmaso, Ney Matogrosso, Paula Morelenbaum e Roberto Menescal. Com o requintado apoio de 5 maestros arranjadores: Antonio Adolfo, Gilson Peranzzetta, Jaques Morelenbaum, João Donato e Marcos Valle. O cantor Ney Matogrosso interpreta a “Canção que morre no ar” de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. “Brinca no ar.  Um resto de canção. Um rosto tão sereno. Tão quieto de paixão. Morre no ar. O sempre mesmo adeus.” 

 NOTA: pesquisa histórica, pesquisa musical e texto por Nando Cury 

OUÇA O PODCAST COM AS MÚSICAS:
https://podcastmais.com.br/semonica/ep157-carlos-lira-uma-biografia-musical/


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