CARROS, HISTÓRIAS E CANÇÕES
Pra falar de carro, quero lembrar de uma perua, de duas portas e amplo porta-malas, da qual tive 4 modelos diferentes no período de 1982, ano de lançamento, até 2004. Nenhuma das quatro tinha direção hidráulica, nem vidro elétrico. Não tinham câmbio de 5 marchas, nem freio ABS. Naquele momento da vida, para um motorista que almejava um carro pela sua utilidade, a VW Parati era perfeita pra cidade e pra estrada. E muito adequada pro campo e pra praia. Minha primeira Parati funcionava a álcool e tinha um motor valente. As outras eram à gasolina. Em seu ciclo de vida de 30 anos, a Parati recebeu várias reestilizações na carroceria, inovações na parte mecânica e mais conforto em seu interior. Finalmente em 2012, saiu de moda e deixou de ser fabricada. Que pena.
Mas, estas são apenas as referências de um, entre centenas de modelos que participam da rica história do automóvel. E que começou lá por volta de 1478, quando o gênio Leonardo Da Vinci imaginou um triciclo automotivo com motor movido por mola, inspirado nos antigos relógios. O fato é que algumas marcas e modelos de carros, por oferecerem algo novo como designs arrojados, motores potentes ou serem ancorados por propagandas criativas ficam famosos, ganham a preferência de consumidores. E chegam a ser verdadeiros objetos de desejo, como retratam letras de conhecidas canções.
Na época em que 9 entre 10 famílias brasileiras possuíam um fusca, Gilberto Gil faz sua homenagem especial ao ícone com “Volks-Volkswagen Blues”, que faz parte do álbum Cérebro Eletrônico de 1969. ““Zeca, meu pai, comprou. Um Volks-Volkswagen blue. Zeca, meu pai, comprou. Um carrinho todo azul.”
Lançado nos EUA, em abril de 1964, com um desenho esportivo muito atraente, o Mustang da Ford virou paixão à primeira vista dos amantes de carro. Em 1967, Wilson Picket conta em “Mustang Sally” o intrigante caso do cara que comprou um Mustang novo pra sua namorada Sally e reclama porque ela não o deixa guiar o carro.
Usando o logotipo de um cavalo selvagem parecido com o do Mustang, em 1968 a Ford brasileira pega carona no sucesso norte-americano e lança o Corcel, um carro popular mais sofisticado, para competir com o fusca. Em 1969 o Corcel ganha novas cores e a também esportiva versão GT.
Na música “Mustang cor de sangue” Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, juntam os dois carros numa sátira ao consumismo. A canção saiu em 1969, no álbum homônimo de Paulo Sérgio Valle. Mas, nesse mesmo ano estourou na voz de Wilson Simonal.
“A Questão Social. Industrial. Não Permite E Não Quer. Que Eu Ande A Pé. Na Vitrine Um Mustang. Cor De Sangue… Na vitrine. Um Corcel. Cor de mel.”
Em 1970, a Volkswagen aproveita para dar um up no fusca e lança o Fusca Sedan 1500, com bitola traseira mais larga, para-choque de lâmina única e novas lanternas. Por causa de seu bom arranque e desempenho na estrada, fica logo conhecido como Fuscão.
“Me disseram que ela foi vista com outro, num fuscão preto pela cidade a rodar”. Com esta frase começa a história de um “Fuscão Preto” que é o álibi de uma traição cantada por Almir Rogério, música sertaneja que vendeu mais de um milhão e meio de discos em 1982.
Um Jeep carregou o espírito aventureiro de seu dono Fernando Brant que, temendo que alguém o roubasse, diariamente tirava seu volante e dormia com ele debaixo do travesseiro. O Jeep recebeu o nobre nome de “Manuel o Audaz” (Toninho Horta, Fernando Brant), gravado em disco de Toninho Horta e Lô Borges, em 1980. “Se já nem sei o meu nome. Se eu já não sei parar. Viajar é mais, eu vejo mais. A rua, luz, estrada, pó. O jipe amarelou. Manuel, o audaz. Manuel, o audaz. Vamos lá viajar.”
Outro modelo de carro muito aceito pelos motoristas foi a Brasília. Projetada por dois designers brasileiros, surgiu em 1973. Vinha com motor traseiro de 1.6 litros a ar e trazia grande área envidraçada, o que facilitava sua dirigibilidade. Uma inesquecível “Brasília Amarela” está presente no clássico disco Pelados em Santos, dos saudosos Mamonas Assassinas de 1995.
E se pensarmos em marcas que jamais se desvalorizam, vamos direto pro álbum In Concert de Janis Joplin, de 1970. A cantora interpreta a canção “Mercedes Benz” de Bob Neuwirth e Michael McClure. E faz um pedido: “Oh Senhor poderia me comprar. Uma Mercedes Benz? Todos os meus amigos dirigem Porsches. Eu preciso entender. Trabalhei duro a vida toda. Sem a ajuda dos meus amigos. Então Senhor poderia me comprar. Uma Mercedes Benz?”
Nota: Texto por Nando Cury
Ouça a versão podcast com as músicas citadas:
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