CONTINUAR A APRENDER
Aprender é na verdade a nossa grande missão de vida. Aprendemos desde que nascemos. A chorar para matar a fome ou para dizer que estamos com alguma dor. Aprendemos logo a falar, a andar, a ler, a escrever… mexer com o celular, nadar, andar de bike, operar um laptop… guiar um automóvel…
Mas alguns aprenderes são mais complicados ou demorados. Me refiro àqueles ligados à emoção. E que são os mais comuns declarados nas letras das canções.
Criada em 1964, por Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, “Eu Preciso Aprender a Ser Só” refletia ainda o romantismo dos anos 50, em que se morria de amor por alguém. E virou um clássico da música brasileira. “Ah, se eu te pudesse fazer entender. Sem teu amor eu não posso viver. E sem nós dois o que resta sou eu. Eu assim tão só…Meus olhos choram a falta dos teus. Esses olhos que foram tão meus. Por Deus entenda que assim eu não vivo. Eu morro pensando no nosso amor”.
Nos tempos da Jovem Guarda, que começa em 1965 com um programa na TV Record de São Paulo, o rei Roberto Carlos, seu grande comandante, mais o parceiro Erasmo Carlos, já contestam o endeusamento da amada. Roberto manda um recado pra uma garota orgulhosa que ainda não aprendeu o que é amar. “Daqui pra frente, tudo vai ser diferente. Você tem que aprender a ser gente. Seu orgulho não vale nada” são frases de “Se você pensa”, lançada em 1968 pelo cantor.
Na virada dos anos 70, quando voltava do exílio e inspirado nas ideias do existencialismo, Gilberto Gil ressalta a importância de ser e não de sofrer. E numa nova composição cita, textualmente o que deve mudar. “… E quando escutar um samba-canção assim como “Eu Preciso Aprender a Ser Só”. Reagir e ouvir o coração responder. “Eu preciso aprender a só ser”, que virou o nome da canção gravada por Gil, em 1973.
“Aprendendo a amar”, de Claudio Rabello e Marcos Sabino destaca a importância de se perceber as características de cada tipo de amor, que pode estar mais perto do que se imagina. “Aprendendo a amar” entrou no LP “Parece que foi ontem” da Som Livre de 1989, de Jerry Adriani. “De repente você estava lá. Como foi que eu nunca pude notar? Foi necessário ser solitário. Pra aprender a amar”.
Cantada por Frejat, a canção “Enquanto ela não chegar”, de Guto Gofi e Maurício Barros, faixa do CD “Balada MTV – Barão Vermelho” de 1999, lembra da necessidade de se insistir para conseguir amar de verdade. “Quantas coisas eu ainda vou provar. E quantas vezes para a porta eu vou olhar. Quantos carros nessa rua vão passar. Enquanto ela não chegar… Não deixe o sol morrer. Errar é aprender. Viver é deixar viver”.
Em 1976, Belchior lançou “Alucinação”, um álbum autoral que foi muito aclamado. E, imediatamente, descoberto por Elis Regina que gravou uma canção que aborda a questão de como aprendemos e nos comportamos. A canção era “Como os nossos pais” que está presente no seu álbum Falso brilhante, também de 1976. “Não quero lhe falar. Meu grande amor. Das coisas que aprendi nos discos. Quero lhe contar como eu vivi. E tudo o que aconteceu comigo… Que apesar de termos feito. Tudo que fizemos. Ainda somos os mesmos e vivemos. Como os nossos pais”.
Com relação ao aprendizado geral da vida, uma letra de música lembra da importância de viver cada dia muito bem vivido. E com isso podermos desenvolver a paciência, a resiliência, trabalhar melhor a ansiedade diante dos desafios cotidianos. É “Um dia após o outro” de Daniel Sequeira Lopes e Tiago Iorc, lançada em 2013, por Tiago Iorc. “Pra começar, cada coisa em seu lugar. E nada como um dia após o outro. Por que apressar? Se não sabe onde chegar. Correr em vão se o caminho é longo. Quem se soltar, da vida vai gostar. E a vida vai gostar de volta em dobro. E se tropeçar. Do chão não vai passar. Quem sete vezes cai, levanta oito. Quem julga saber. E esquece de aprender. Coitado de quem se interessa pouco”.
Uma bela abordagem poética sobre como olhar a vida, está na letra de “Aprendendo a viver”, canção composta por Renato Teixeira e cantada por seu filho Chico Teixeira em 2012. “O gesto que agradece o dado. O ato que engradece o fato. A luz que guia o meu sapato. O passo é um laço. As coisas do mundo. Vão se traduzindo. E o tempo é o vento. Que vai conduzindo. E a gente navega nos mares da vida, aprendendo a viver”.
Pra finalizar, uma lição de valorização à vida pelo fato de que sempre estaremos aprendendo algo se olharmos pra vida que já é bela. Ou seja, somos eternos aprendizes, como canta Gonzaguinha em “O que é, o que é”, lançada em 1982. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Ah meu Deus eu sei, eu sei. Que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita. É bonita, é bonita e é bonita”.
NOTA. Pesquisa histórica, musical e texto por Nando Cury
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