UM DIA DE DOMINGO
Domingo traz de carona uma antiga parlenda gravada em nossa memória. Que na infância repetíamos sem pensar no seu significado: “Hoje é domingo. Pede ou pé de cachimbo. O cachimbo é de barro. Bate no jarro. O jarro é de ouro. Bate no touro. O touro é valente. Bate na gente. A gente é fraco. Cai no buraco. O buraco é fundo. Acabou-se o mundo.” (Autor desconhecido)
Domingo é dia onde cada um pode escolher o que quiser fazer, inclusive vadiar. Praticar hobbies hoje restritos a poucos apreciadores, feito fumar cachimbo. Ou aderir aos programas mais convencionais. Domingo é o dia oficial de futebol, estádio, torcida, de arquibancada.
Dia de domar a bike a pedaladas. Dia de filme de aventura, suspense, comédia, de emoção. Dia de tela, de cinema, de televisão.
Domingo é dia quase dormindo. Dia do despertador manso, dia do remanso. Dia de descanso pra quase todo mundo. Dia doméstico, bicho humano domesticado. Dia dentro dos domínios, faxina à vista a domicílio. Dia do pijama, de se esticar no meio da cama. De tirar cochilo no sofá, sem o menor drama. Dia de boa aragem, mensagem pra se mergulhar na jardinagem.
Domingo é dia de soltar as amarras dos apaixonados solitários. Para deixarem o pensamento e a imaginação voarem, sonhando estar ao lado da amada ou do amado que está longe. Como no enredo da canção “Era Domingo” de Zeca Baleiro e Marcos Faria:
“Era domingo, era do mundo. Meu olhar perplexo. Na voz navalha. Vida, migalha. E eu quero mais que isso. Toda beleza. Na fortaleza. De um céu cheio de azuis. Música bela. Pela janela. Soava feito um blues. E eu tão só. Tão sem ninguém. Em meio ao pó da multidão. Na boca um doce. Amargo travo. Eu livre, escravo da paixão.”
Se é dia de domingo eu ligo e digo. Dia de mim, de estar mais comigo e contigo. Dia de encontro. De fazer confidências, acertar as diferenças. Perfumados e vestidos com roupas especiais. Inspirados em “Um dia de domingo”, nas vozes de Tim e Gal:
“Eu preciso te falar. Te encontrar de qualquer jeito. Pra sentar e conversar. Depois andar de encontro ao vento. Eu preciso descobrir. A emoção de estar contigo. Ver o sol amanhecer. E ver a vida acontecer. Como um dia de domingo.” (Lima Ivanilton De Souza / Massadas Paulo Cesar Guimaraes/ Plopschi Mihail)
Domingo é domenica (em italiano), dimanche (em francês), dies Domini ou dia do Senhor. Para os cristãos é o primeiro dia. Dia de subir e descer degraus nas igrejas e templos, para oração e louvor.
É o dia dos filhos, dos pais, dos avós, dos primos, dos irmãos, dos cunhados, do sogro, da sogra, dos tios e tias. Dia de almoço em família.
Domingo também é Sunday (em inglês) ou dia do Sol. Dia de passear no parque. Dia de paciência no jogar o anzol na represa pra fisgar um peixe. Dia de se esquecer na praia ou na piscina para colar um bronze. E de torcer pra não chover. Mas, não é assim na história cantada pelo Premê:
“Era um domingão, tinha muito sol. Meu avô na frente, minha avó atrás. E o rádio a mil… Tudo num fuscão, tri legal. Vamos indo todos. Vamos indo juntos à Praia Grande… Mas ao chegar na praia. O tempo logo fechou. Meu avô de tanga, minha avó de maiô. Minha mãe chorava. O totó latia, o meu pai calava. E no mais chovia…” (Wandi Doratiotto)
Domingo enfim é dia violão, tocando e terminando num acorde dominante só, que tem dó, tem mi, mas pode ou não ter a nota sol.
NOTA: Pesquisa histórica e musical, texto por Nando Cury
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