casa com varanda

NAS VARANDAS DO PENSAMENTO

Varanda combina com fazenda, casa de campo, casa espaçosa. Representa uma área aconchegante da casa, onde se pode estender uma rede e se esticar nela, pra tirar uma soneca em silêncio. “Deita o corpo pra cá. Pra variar a lua brilhando. No calcanhar. A rede balança. Sem descansar. E o tempo não cansa. Na varanda”. Assim canta Tiê em “Na Varanda da Liz” (Plínio Júnior, João Cavalcanti e Tiê).

Mas varanda pode ter uma espreguiçadeira. Ou cadeiras e uma bela mesa de madeira maciça, com toalha estendida pra se tomar um lanche com leite, pães quentinhos, queijos, geleias, acompanhados de um chá ou café coado na hora. Desse jeito, à vera, vira uma varanda gourmet.

varandaA varanda é feita para ancorar aqueles momentos de deixar o corpo em stand by. Enquanto a cabeça anda e flutua, o pensamento vara o horizonte e voa pra longe, na busca de melhores tempos de paz e de esperança. Como pensam as pessoas de um certo vilarejo, retratado por Marisa Monte. “Há um vilarejo ali. Onde areja um vento bom. Na varanda, quem descansa. Vê o horizonte deitar no chão.” (“Vilarejo”, Marisa Monte, Arnaldo Antunes. Calinhos Brown e Pedro Baby).
Espaço nobre que serve muito bem durante o dia e acolhe também em toda a noite, cada varanda tem, evidentemente, o seu próprio cenário, seu cartão postal. Varanda vira mirante de nascer e pôr do sol. Ao anoitecer é o local ideal para se captar os pontos luminosos que vão aparecendo no céu, de receber a lua e o clarão do luar.

É o que contam Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro em “História Antiga”: “Na varanda da sacada. Clareando a noite nua. O olhar da minha amada. Refletia a luz da lua. E na noite enluarada. Não se ouvia quase nada. Só meu violão na rua.”

O compositor, violeiro e cantor Almir Satter pode falar em varandas no plural, pois ora divide as paisagens da varanda de sua casa da Serra da Cantareira em São Paulo, ora das varandas de suas fazendas no Pantanal Matogrossense. “A noite é um mistério. Que eu finjo bem compreender. Sentado nas varandas. Esperando o amanhecer. Estrelas lá no céu. Fogueiras no sertão.” (“Varandas” de Almir Satter e Paulo Simões, do LP Doma).

casa com varandaBuscando um recanto com moradia mais singela, situada no meio do mato, para resolver seus momentos de solidão, Gilson lança a sua “Casinha Branca”. “Eu queria ter na vida simplesmente. Um lugar de mato verde pra plantar e pra colher. Ter uma casinha branca de varanda. Um quintal e uma janela para ver o sol nascer”.
Em início de carreira, no disco Domingo, Caetano Veloso inclui sua canção “Avarandado” que traz uma visão incrível de uma varanda, que ele curtia ao lado da namorada e tinha fundo infinito. “Namorando a madrugada. Eu e minha namorada. vamos andando na estrada. Que vai dar no avarandado do amanhecer.”
Varanda é também um ótimo e divertido lugar pra se jogar conversa fora. Uma função bem lembrada na canção “Na Varanda” de Fernando Anitelli, do Teatro Mágico.” Na varanda. Onde o ar anda depressa. Vai embora na conversa. Nossa pressa de ficar. Na varanda. Onde a flor se arremessa. Onde o vento prega peça. Nos traz festa pelo ar”.

E se recordarmos dos ambientes de casas antigas da nossa infância, certas varandas levantam uma enorme saudade de pessoas queridas. Nelas nos imaginamos brincando de pega-pega, esconde-esconde, passando ao redor de nossos familiares, enquanto eles conversam de assuntos que não entendemos. Na canção “Fazenda”, de 1972, Nelson Ângelo, nos deixa bem próximos dessa época. “Água de beber. Bica no quintal. Sede de viver tudo. E o esquecer era tão normal. Que o tempo parava. Tinha sabiá. Tinha laranjeira. Tinha manga rosa. Tinha o Sol da manhã. E na despedida. Tios na varanda. Jipe na estrada. E o coração lá”.

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