Casal dançando

TE CONVIDEI PRA DANÇAR?

Uma tão aguardada noite de baile no clube, lá na minha adolescência dos anos 60. Garotas vão chegando acompanhadas de seus pais e ficam sentadas em suas mesas, ou próximo delas. Garotos, incluindo os recém-chegados como eu, insistem em cruzar o salão para rondar as mesas das garotas. Os trajes destacam vestidos e camisas floridos e multicoloridos. Combinando com as peças descontraídas de palmeiras, cocos e colares que decoram o salão.

Nas sequências de músicas lentas, a “cerimonialista” indica rostos colados, a la “Cheek to cheek” (1). Garotos é quem devem tomar a coragem de fazer convites à dança. Ansiosos, esperam delas o ”sim, aceito”, que puxa e leva o calor consentido das mãos apertadas para dentro dos abraços respeitosos e afetuosos. Um clima que se completa na conexão de “perfumes gardênia”, feminino e masculino, sob essências de flores, frutas ou madeiras da época.

A conhecida banda capricha no repertório, que reserva canções lentas e super envolventes. Como a clássica “Do you wanna a dance and hold my hand” (2). Se os dois interessados estão lado a lado e começam a cantar a música, pronto, juntam seus passos, em direção à pista.

“Smile an everlasting smile. A smile can bring you near to me” (3). Para obter bons desempenhos na pista, recomenda-se manter o sorriso e buscar, na memória ou criatividade, assuntos mais inteligentes pra impressionar parceiras (os). Sem desconcentrar-se na coordenação dos movimentos. Pisar no pé ou descompassar pode comprometer novas aceitações, ou indicações futuras pra uma próxima dança.

De forma alternada no playlist da banda, vem as sequências de músicas rápidas, para dançar soltos e separados. Álibis para descontrair os mais tímidos e tímidas, que vão entrando em pequenos grupos de exibicionistas e aprendizes, arriscando conjuntos de passos e de balançadas de mãos e de braços. Esquentam-se com: “Well, shake it up, baby, now. Twist and shout. Come on, come on, come, come on, baby, now. Come on and work it on out“ (4). Soltam-se em : “I can’t get no satisfaction. I can’t get no satisfaction. ‘Cause I try, and I try, and I try, and I try. I can’t get no… Hey, hey, hey. That’s what I say” (5).

Então os músicos emplacam a sequência de lentas que traz letras caprichadas. Sabe aquelas canções do tipo “gostaria de ter composto ou cantado”. Inspirado, com um copo de guaraná na mão, eu “me imagino saindo da pista, me transportando para o palco, sonhando pretenciosamente ser o crooner. E imitando a entonação da dupla famosa da música. “When you’re weary. Feeling small. When tears are in your eyes. I’ll dry them all… Like a bridge over trouble water. I will lay me down” (6).

Segue mais uma seleção rápida. E eu fora da pista, posicionado numa das turmas de garotos e garotas. Todos estão atentos para quem chega, dança, sai acompanhado ou acompanhada, depois da dança. Inesperadamente meus olhos travam na imagem especial de uma garota de incomparável beleza, bem alí no cenário do salão. “Well, she was just seventeen. You know what I mean. And the way she looked. Was way beyond compare. So how could I dance with another. Ooh, when I saw her standing there?” (7).

Após o intervalo, o vocalista e líder da banda anuncia a última seleção da noite. Incrédulos os dançarinos e dançarinas se direcionam aos músicos, implorando com pedidos sinceros que continuem, indefinidamente: “tá incrível”, “toquem aquela do… Ao começo da primeira música, nos gestos dos casais dançando percebe-se as confidências, expondo declarações apaixonadas, namoros que vão sendo oficializados, marcações de encontros… “Cherish is the word I use to describe. All the feeling that I have hiding here for you inside. You don’t know how many times I’ve wished that I had told you.”(8)

E afinal esta é a minha última chance. Ficarei sozinho até o próximo baile? Ah, não! Num flash, estou ao lado daquela linda imagem do cenário do salão. Na verdade, sou o segundo na fila dos convites. Mas ela não repara o garoto na minha frente. Seus olhos estão mirando firmes para os meus. Duvido? Pergunto algo? Não preciso. Ela vem em minha direção, segura na minha mão e me convida pra dançar.”.” Daydream, I fell asleep amid the flowers. For a couple of hours on a beautiful day… And then when I kissed you and held you. So near tell me why, tell me why you’re so shy? (9)

Citações e músicas incidentais: 1) Cheek to cheek (Ella Fitzgerald, Louis Armstrong); 2) Do you wanna dance (Bobby Freeman), com Johnny Rivers; 3) Words (Maurice Ernest Gibb, Robin Hugh Gibb, Barry Alan Gibb), com Bee Gees; 4) Twist and shout (Phil Medley, Bert Berns), com The Beatles; 5) Satisfaction (M. Jagger, K. Richards), com The Rolling Stones; 6) Bridge over trouble water, (Paul Simon), com Simon and Garfunkel; 7) I saw her standing there” ( Lennon and Mc Cartney), com The Beatles; 8) Cherish (Terry Kirkman), com The Association; 9) Daydream (Sylvain Vanholme, Raymond Vincent), com Wallace Collection.

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