Salto de paraquedas
QUEM NUNCA FEZ UMA LOUCURA QUE SE PRONUNCIE

Acho que estamos nesta vida pra errar, acertar, aprender… E isso envolve fazer ou ter feitos certas loucuras, por vários motivos. Uma poupança forçadíssima para realizar a viagem dos sonhos. Não dormir e chegar de madrugada na fila pra comprar ingressos da banda preferida. Saltar de paraquedas. Estes são meros exemplos. Nessas nossas andanças, quantas vezes não nos deparamos numa encruzilhada. Por ali, caminho conhecido, maré mansa, vento leve, sol ameno. Se chover, sabemos onde nos abrigar. Por lá, caminho novo, sol e vento mais fortes, longa subida. Também não sabemos em quanto tempo chegaremos ao objetivo. Mas, arriscamos ir pelo novo caminho.

O novo envolve decisões e mudanças que quase sempre nos amedrontam. Deduzimos não estar preparados para assumir uma nova função profissional, investir em novo carro, nova casa, nova reforma, novos móveis… Nestes casos, apostamos mais na razão. Por outro lado, o novo é mais emocionante, mais contagiante, até mais prazeroso. Imagina, então, quando a decisão é plenamente emocional. Nas músicas, o tema loucura assume diversas faces, exemplificadas nas letras de canções famosas.

Pode ser uma questão de “sofrer dos nervos” ou ter um gênio forte que quase chega à beira da loucura. Um termo engraçado já foi moda nos anos 50, época na qual a palavra hospício denominava os hospitais, que ficavam em lugares mais afastados do centro, onde eram tratadas as pessoas com graves problemas mentais. Um deles ficava em Jacarepaguá, bairro do Rio de Janeiro. O termo neurastênico depois foi abreviado para neura ou neuras. A canção Neurastênico, de Nazareno Fortes de Brito e Alberto Borges de Barros, com letra e performance engraçadas foi sucesso com Os Cariocas, em 1957.
“Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr .Mas que nervoso estou. Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr. Sou neurastênico. Preciso me tratar, senão. Eu vou pra Jacarepaguá. Tão amoroso sou. Quem já provou gostou. Preciso me cuidar, senão. Eu vou pra Jacarepaguá. Eu sei que elas me querem. Mas é para casar. E eu digo que me esperem. Porque depois da festa ta-rá-ta-tá.”

Balão de ar quenteNão é surpresa nenhuma que nas décadas de 60 e 70 tenha ocorrido um deslumbre em relação às drogas ilícitas, que levaram pessoas a cometer certas loucuras e também a tragédias, como mortes por overdose de cantores famosos. Muitos artistas foram tachados de loucos. Alguns, como Os Mutantes e Raul Seixas, responderam com composições que viraram sucessos. Em 1972, Arnaldo Baptista, Rita Lee e Roger Ranson se pronunciaram com a “Balada do Louco”, gravada pelos Mutantes no LP “Mutantes e seus cometas no país dos baurets”. “Dizem que sou louco por pensar assim. Se eu sou muito louco por eu ser feliz. Mas louco é quem me diz. E não é feliz, não é feliz.” Em 1977, Raul Seixa lançou novo LP, abrindo com a faixa “Maluco Beleza”. “Enquanto você se esforça pra ser. Um sujeito normal e fazer tudo igual. Eu do meu lado aprendendo a ser louco. Um maluco total, na loucura real. Controlando a minha maluquez. Misturada com minha lucidez. Vou ficar. Ficar com certeza. Maluco beleza.”

Um romance avassalador também pode ser uma coisa de louco. Estar loucamente apaixonado ou estar loucamente apaixonada. fazer uma loucura para ficar com alguém. Há diversas canções com o título” Louco por você “. Isso vai de Roberto Carlos a Caetano Veloso, passando até por Roni Cord.
“Louco por você” de Paul Vance e Lee Pockriss, na versão de Carlos Imperial, é do segundo disco de Roberto Carlos, gravado em 1961. E se tornou o primeiro grande sucesso do cantor. “Beija meu amor. Seu beijo todo dia eu quero ter. Sou cada vez mais louco, louco. Louco por você. Carinhos meu amor. Eu tenho pra lhe dar. E quero ser. Muitas vezes mais louco, louco. Louco por você.”
Esta outra canção “Sou louco por você” foi composta pela também cantora Elizabeth Sanches, mas ficou muito famosa na voz de Ronie Cord, em 1968. “Estou completamente apaixonado por você. E coisa mais bonita não podia acontecer. A luz em meu olhar já pode perceber. Não há mais condição de esconder. Sou louco… sou louco por você”.

A música “Louco por você” de Caetano Veloso faz parte do álbum Cinema Transcendental de 1979. “Tudo o que ressalta quer me ver chorar. Louco por você. Nada esquece de armar uma lágrima. Que às vezes vem bater. Na cara… Onda do mar… Até gritar de… Felicidade. Tarde cinza, lágrima prismática. Louco por você”.
“Tudo bem” de Lulu Santos e Patty Schemel foi lançada num single em 1986 e virou um dos maiores sucessos do cantor. “Já não tenho dedos pra contar. De quantos barrancos despenquei. E quantas pedras me atiraram. Ou quantas atirei. Tanta farpa, tanta mentira. Tanta falta do que dizer. Nem sempre é “so easy” se viver…Mas o teu amor me cura. De uma loucura qualquer. É encostar no seu peito. E se isso for algum defeito. Por mim tudo bem.”
“Só Louco”, de Dorival Caymmi, ganhou um arranjo magistral de João Donato, e virou a canção mais tocada do LP “Gal canta Caymmi” de 1976, produzido por Pedrinho Albuquerque. Foi escolhida para ser tema da abertura da novela “O Casarão”, de Lauro César Muniz na Rede Globo, no mesmo ano. “Só louco. Amou como eu amei. Só louco. Quis o bem que eu quis. Oh! insensato coração. Por que me fizeste sofrer. Por que de amor para entender. É preciso amar. Por que? Só louco.”

Nota: Sugestão de tema e pesquisa musical por Toni Liutk.

Foto Kamil Pietrzak

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