Sá, Rodrix e Guarabyra

SÁ,  RODRIX E GUARABYRA: UMA BIOGRAFIA MUSICAL

Um encontro – de amizade e musicalidade – entre o carioca José Rodrigues Trindade, Zé Rodrigues, com outro carioca Luiz Carlos Pereira de Sá, o Sá, e um baiano da cidade de Barra, que aos 19 anos de idade se mudou pro Rio de Janeiro, Gutemberg Nery Guarabyra Filho, o Guarabyra.

Zé RodrixZé Rodrigues já havia formado com David Tygel, Maurício Maestro e Ricardo Villas o grupo Momentoquatro, acompanhando Marília Medalha, Edu Lobo e Quarteto Novo na canção “Ponteio” (Edú Lobo, José Carlos Capinan) no Festival da TV Record de 1967. Depois participado da banda Som Imaginário, tocando com Milton Nascimento. Luis Carlos Sá já havia composto canções gravadas por Luhli (“Baleiro”) da dupla Luhli e Luciana e por Percy Ribeiro (“Giramundo”) , Nara Leão (“Menina de Hiroshima”) .

Guarabyra, acompanhado do Grupo Manifesto, já havia vencido a fase nacional do II Festival Internacional da Canção da TV Globo em 1967, com “Margarida”.  E em parceria com Renato Corrêa e Danilo Caymmi compôs Casaco Marrom, que virara sucesso na voz de Evinha.

Sá e GuarabyraEntão em 1972, Sá e Guarabyra formam um trio com o amigo Zé Rodrix. E num ensaio, no apartamento de Ipanema no qual moram Sá e Guarabyra, são ouvidos por Júlio Hungria, crítico de música da Rádio Jornal do Brasil, e pelo produtor da Odeon Mariozinho Rocha que os contrata.

 

Sá, Rodrix e GuarabyraA inspiração para o nome vem da admiração por Crosby, Stills & Nash.

E o ponto de partida para a proposta musical é tirado de um verso de “Casa no Campo” (Zé Rodrix, Tavito) : “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rocks rurais”.

 

Primeiro álbum: Passado, presente e futuro, 1972
Sá, Rodrix e Guarabyra
O primeiro álbum “Presente, passado e futuro” está sob a aura do rock rural, um estado de espírito, segundo Guarabyra. Na verdade, o trio aposta num grande coquetel rítmico, misturando o rock com folk music, country music, Tropicalismo, música mineira e a sertaneja. Os temas têm inspiração no folclore brasileiro, filosofia hippie, contracultura e paisagens da região do Rio São Francisco, onde se localiza a cidade natal de Guarabyra. A direção artística é de Milton Miranda, a produção de Mariozinho Rocha, os arranjos de orquestra são de Zé Rodrix e a direção musical e regência do Maestro Lindolpho Gaya.

Os destaques vão para a balada “Me faça um favor” (Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix), solada por Sá. E também para um rock, com apoio de guitarra, violão de aço e viola caipira, na voz de Guarabyra “Cumpadre meu (Gutemberg Guarabyra), e outra balada rural, puxada por Sá, chamada “Primeira canção da estrada” (Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix), com base de viola caipira, violão de aço e o piano de Rodrix.

A imperdível é “Hoje ainda é dia de rock” (Zé Rodrix), um rock com pitadas de Mutantes, solada por Rodrix. Há ainda as envolventes, bem vocalizadas e puxadas por Sá, “Ouvi contar” (Sá, Rodrix, Guarabyra), com arranjo renascentista, e “Azular” (Luiz Carlos Sá), uma visão da vida no campo na beira do sertão, com solos de craviola. Marcante é a cantiga de ninar “Boa noite” (Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix), com bela interpretação de Zé Rodrix.

Compacto simples: 1972
É também de 1972, um raro compacto simples da EMI-Odeon, que mais parece um bônus track do LP. E vem com mais dois rocks rurais. No lado 1 tem “Viajante” (Zé Rodrix, Luiz Carlos Sá): “Ando com estrelas na cabeça. Onde com vontade, viajar. Toda noite acordo. E me sinto como que grudado no chão. Preciso acompanhar minha vontade guardada. Preciso por o pé na estrada”. No lado 2 tem “Ribeirão” (Guarabyra): “Eu preparei, sem poder mandar. Um telegrama de vem me ver. Pois ninguém sabe onde te encontrar. Água, sem ribeirão. Chuva que cai fora da estação”.

Segundo álbum: Terra, 1973
Album TerraNo segundo trabalho “Terra” todas as músicas são assinadas por Sá, Rodrix e Guarabyra. E o álbum carrega duas temáticas distintas, reflexo das diferentes personalidades de seus criadores. Uma que convida para a volta à vida no campo e outra que homenageia a década musical anterior, a religiosidade e fatos místicos.  Difícil tarefa é destacar as melhores deste álbum repleto de canções brilhantes. As que tiveram mais sucesso se apoiam na voz de Zé Rodrix, como o rock “Anos 60” com levada de twist, que relembra essa época dançante, dos tempos da Jovem Guarda. O grande hit é o rock “Mestre Jonas” que fala de um profeta que mora numa baleia, também solado por Zé Rodrix, com apoio de órgão Hammond, piano, guitarra e baixo.

Bacia do Rio São FranciscoE tem a vibrante “Blue Riviera” que leva o ouvinte de volta aos points dos anos dourados. No lado B, três canções resgatam as paisagens e costumes das cidades em torno do Rio São Francisco, que nasce em Minas Gerais, cruza a Bahia e deságua entre Sergipe e Alagoas, sendo navegável em mais de 500 municípios brasileiros.

 

A primeira é “Pindurado no Vapor” que dá a dimensão do tempo gasto entre duas cidades, navegando pelo rio. “De Bom Jesus da Lapa (BA) a Pirapora (MG) são cinco dias pindurado num vapor”. Outra marcante é “O pó da estrada” que fala sobre a força que levanta da estrada e os leva sempre para frente, a cantar no próximo destino. E ainda tem “Brilho das pedras, Paulo Afonso” que nos lembra um jeito especial de ouvir as vozes dos bichos noturno e ver o nascer do sol.

Terceiro álbum: Outra vez na estrada,  2001
Outra vez na estrada - capa Sá Rodrix e GuarabyraDepois do segundo disco, Zé Rodrix deixou o trio para seguir carreira solo e também virar um famoso compositor publicitário, criador de jingles inesquecíveis.

A oportunidade para uma volta do trio surge 26 anos depois, com a terceira edição do Rock In Rio, em 2001. Os organizadores desejam fazer uma homenagem ao rock rural e procuram Luiz Carlos Sá, que arma a ponte com Guarabyra e Zé Rodrix. São necessários apenas alguns dias de ensaio, para que Sá, Rodrix & Guarabyra subam ao palco do evento, realizem uma apresentação histórica e saiam muito ovacionados. O resultado é um contrato com a Som Livre para um CD/DVD, ao vivo, com o referido show, que é gravado no Teatro Mars em São Paulo, no mesmo ano.

O track list do CD contém sucessos de outros álbuns de Sá e Guarabyra como “Espanhola” (Guarabyra, Flávio Venturini), “Dona” (Sá, Guarabyra), ”Roque Santeiro” (Sá, Guarabyra) e “Sobradinho” (Sá, Guarabyra). Leva as inesquecíveis “Casa no campo” de Zé Rodrigues e Tavito e “Caçador de mim” (Sérgio Magrão, Luiz Carlos Sá), gravada por Milton Nascimento.

Repete ótimas canções gravadas anteriormente pelo trio, como “Primeira canção da estrada” (Sá, Zé Rodrix), “O pó da estrada”(Sá, Rodrix, Guarabyra), “Cumpadre meu” (Guarabyra), “Me faça um favor”(Sá, Guarabyra),  a clássica “Mestre Jonas”(Sá, Rodrix, Guarabyra) e a envolvente “Ribeirão”(Guarabyra).

Como novidade apresenta cinco inéditas, que apesar de navegarem em conhecidas frases musicais, não arrancam o selo de surpreendentes. São elas: “Outra vez na estrada” (Sá, Rodrix, Guarabyra), um rock com pegada jazzística, “ No tempo dos nossos sonhos” (Sá, Zé Rodrix), “Aqui se faz, aqui se paga” ” (Sá, Zé Rodix, Guarabyra), “Criador e criatura” (Sá, Zé Rodix, Guarabyra), e “Jesus na moto” (Zé Rodrix).

Quarto álbum: Amanhã, 2010
Capa Amanhã - Sá Rodrix e GuarabyraGravado 8 anos após o reencontro do trio, “Amanhã”, que apesenta composições inéditas, surpreende pela evolução artística de seus autores. O álbum é feito no capricho, com o apoio de Tavito, ajudando nos arranjos vocais e assumindo a produção musical. As artimanhas do coração e a busca do amor perfeito entram como molas propulsoras dos temas. Na voz de Sá estão presentes em “Amar direito” que leva rifs de acordeón e a frase “preciso entender o teu jeito”.  Aparecem na brilhante “Os dez mandamentos do amor”, outra solada por Sá, ancorado por um belo coro vocal dos três. E, novamente, na imperdível canção “Nós nos amaremos”, interpretada por Guarabyra. O álbum surpreende também com episódios bem humorados de casos de paixões , como em “Logo eu, saudade” e “Marina, eu só quero viver”. A vibrante canção “Novo Rio” relata uma previsão futurista da cidade.

Sá Rodrix e GuarabyraInfelizmente, Zé Rodrix faleceu em maio de 2009, um mês após o término da produção do quarto e último álbum do trio do rock rural. E “Amanhã” foi finalmente lançado no início de 2010.

 

 

NOTA 1 – Principais fontes consultadas: discogs.com; discosessenciais.om.br; toque-musicall.com; blogger.com; dicionariompb.com.br; amusicade.com; Sousa, Rainer Gonçalves; multisom.com.br; blogdomarioferreia.com.br

NOTA 2 – Pesquisa histórica, pesquisa musical e texto por Nando Cury


 

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